sexta-feira, 15 de julho de 2016

Concertos mornos em noite abrasadora junto ao Tejo

Os destaques do primeiro dia do Super Bock Super Rock 2016 foram The National e... Éder

O Super Bock Super Rock apresentou-se em 2016 com algumas novidades e na maioria dos casos, para melhor. O local é o mesmo, mas a organização preocupou-se – e bem – em limar várias arestas do ano passado. Em primeiro lugar, desapareceu aquela obscena zona VIP que ocupava uma faixa gigantesca do lado esquerdo do palco (e que só era ocupada quando o artista tirava um hit da mala). Depois, trouxeram aqueles copos cool que não só diminuem exponencialmente o lixo, como são também boas recordações para levar para casa (quem é que não prefere beber cerveja de um copo com o nome do Iggy Pop?). Sim, é um hassle ter que andar com o copo na mão toda a noite, mas enfim, não se pode ter tudo. Agora, a música.

A contrastar com a brasa que se fazia sentir junto ao Tejo, a primeira noite do festival foi apenas morna. A minha começou com Kurt Vile no Palco EDP. Com dois álbuns superlativos na bagagem ("Wakin on a Pretty Daze" de 2013 e "b'lieve I'm goin down..." de 2015) e uma carreira que já conta com 10 anos e uma passagem pelos The War On Drugs (que fundou com Adam Granduciel), Kurt Vile chegava a Lisboa com a fasquia muito alta e a responsabilidade de abrir as hostes. Mas apesar das minhas expectativas, Kurt não correspondeu. Talvez por causa do espaço aberto, talvez por causa da luz natural que ainda raiava, talvez por causa do público que ainda estava enferrujado na madrugada do festival. Não sei. Mas Kurt só conseguiu conquistar a audiência quando sacou de "Pretty Pimpin", o primeiro momento de apoteose do SBSR 2016 (consta que a apoteose foi tal, que houve meninas em topless, mas como eu estava concentrado no palco, pics or it didn't happen). No resto, enquanto Vile vagueava entre o Neil Young caótico e o Bruce Springsteen poético (com direito a um cover personalizado de "Downbound Train"), o público não aderiu. Pena. Espero vê-lo cá mais vezes.

Seguiu-se The National no Meo Arena, outrora Pavilhão Atlântico e por estes dias, Palco Super Bock. À chegada, um cenário deprimente: meia casa. A plateia em pé não passava a mesa de som, apesar do Balcão 1 estar composto (com o avançar do concerto, a metade traseira da arena também se foi salpicando). Mas é como diz o povo: "poucos mas bons". Quem lá esteve, vibrou à grande; bateu palmas, cantou as músicas de trás para a frente e de tal forma, que em partes o público ouvia-se em maior volume que o próprio Matt Berninger. Impressionante. No fim, Matt retribuiu com um crowdsurfing, um carinho para a poderíssima fanbase portuguesa dos The National. É evidente que a banda joga em casa em Portugal e não admira por isso que eles voltem todos os anos.
Para mim, foram uma revelação. Confesso que durante anos não dei a devida atenção aos The National e nem consigo explicar porquê, tanto que tinha as orelhas as escaldar de ouvir amigos clamarem a sua excelência. Talvez tenha sido isso, achava exagerado o culto. Ontem converti-me.
Agora, a parte chata: na parte final, com os êxitos vieram os telemóveis para cima. Malta, já estamos em 2016 e o êxtase das câmaras nos telemóveis já devia ter amainado. Quantas vezes é preciso dizer e em quantas formas é preciso escrever para que baixem a porra dos telemóveis. Uma foto, ok. Um vídeo de 30 segundos para o insta, ninguém leva a mal. Musicas inteiras, pá, não.

Voltando ao EDP para Jamie XX, vê-se o palco muito bem composto. O público, digo. No palco só está mesmo Jamie, num DJ Set glorificado que, faça-se justiça, arrancou muito entusiasmo do público (então era aqui que eles estavam!). Não foi propriamente um Avicii, até porque a música que saía das colunas era incomparavelmente melhor (o álbum "In Colour" foi um dos melhores do ano passado), mas não sei se podemos classificar aquilo de música "ao vivo". A escolha musical de Jamie andou entre o piso de cima e o piso de baixo do Lux. Nos melhores momentos, esteve no piso de cima, como em "Loud Places", com a voz dos The XX, Romy Madley Croft.
À saída, cantou-se a plenos pulmões e com afinação apurada que "foi o Éder que os fodeu". Mais do que a música e à falta de concertos lendários, foi ainda a ressaca da vitória da Selecção no Europeu que trouxe a euforia ao Parque das Nações, numa noite gloriosamente abrasadora.

A fechar a noite, os Disclosure no Meo Arena, agora transformado em discoteca: casa cheia na plateia em pé e bancadas despidas. Estava lá eu que, mesmo com o House castigador que saía das colunas, ouvia cristalinamente um ruído de conversa vindo de toda a plateia a sobrepôr-se à música. Como quem estava lá em baixo, também eu só queria conversar e por isso fui para o bar terminar a minha noite.

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