domingo, 19 de janeiro de 2020

NOS Alive ataca a Pop e Rock In Rio volta ao Rock

Quando, no ano passado, o NOS Alive anunciou os nomes de Taylor Swift e Billie Eilish como cabeças do seu cartaz para 2020, as redes sociais do festival explodiram em ira pela alegada rockinriozação do Alive. Percebe-se porquê. Na última década, o Alive explorou a viragem à Pop do Rock in Rio, à EDM do Sudoeste e ao Hip Hop do Super Bock Super Rock, para se cimentar como o melhor cartaz de Rock em Portugal. A única concorrência vinha de Paredes de Coura, mas esse era demasiado pequeno, demasiado longe e demasiado hipster para fazer mossa à máquina trituradora do Alive. No Rock, o Alive era Rei e Senhor.

Contudo, para 2020, o Alive quer mais.

Aparentemente, não foi suficiente ter sugado todo o sumo do Rock ao Rock In Rio, transformando-o numa punchline recorrente de piadas sobre a mercantilização dos festivais e acusações de um Rock In Rio sem Rock, nem Rio. Para 2020, o Alive quer também atacar os alvos Pop, tradicionalmente destinados ao Parque da Bela Vista; e fá-lo num ano em que o autodenominado "maior festival de música do mundo" regressa a Lisboa. Taylor Swift parecia um casamento perfeito com aquela slot historicamente destinada à Britney Spears, Shakira, ou Adriana Grande, mas em vez disso, vai para a slot onde dantes estiveram Arctic Monkeys, Pearl Jam, ou Radiohead. Eu gosto da Taylor Swift, mas não deixa de ser uma evolução bizarra.

Como se não bastasse este ataque à Pop, o Alive apresenta também para a sua edição de 2020 um trunfo do Hip Hop habitualmente apresentado pelo Super Bock Super Rock — Kendrick Lamar. A resposta do SBSR foi A$AP Rocky, mas sente-se que é como quem responde uns Ocean Colour Scene, a uns Oasis. Não é bem o mesmo campeonato. A não ser que venha daí um Kanye West para o Meco, o festival vai ficar claramente a perder.

Com esta aparente viragem à Pop e ao Hip Hop do Alive, o público mais antigo e mais fiel do festival sentiu-se traído. Era óbvio que isto iria acontecer e foi com certeza discutido na organização do festival. Mas tentando ser o mais objectivo possível, o que é que isso lhes interessa? Muito pouco. A verdade é que eles vão atrás do dinheiro. Não há outra maneira de dizer isto e nem é dito em tom jocoso. É um facto. O Alive cresceu a olhos vistos na última década e passou de uma alternativa ao Rock In Rio, ao mais consagrado festival de Portugal. Ganharam o público, penetraram o mainstream e ali se querem estabilizar, uma vez que é no mainstream que estão os sponsors e daí é que vem o dinheiro a sério. E a forma de se perpetuar no mainstream é, teoricamente, seguir os passos do Rock In Rio e conquistar o público da Pop, mais disposto a deixar a nota. "Follow the money", já dizem os americanos.

Mas será que, na prática, esta é mesmo a melhor opção para garantir o sucesso do festival? Não tenho a certeza. Esta viragem tem muitos riscos, começando pelo facto do público da Pop ser extremamente volátil e, ao contrário dos fiéis do Rock, vai-se embora com a mesma facilidade que vem. Mas o Alive está apostado em domar a arte do mainstream sem incorrer no pecado da vulgarização em que se deixou cair o Rock In Rio. Para isso, dá também "uma na ferradura" e vai buscar o mais alternativo Kendrick Lamar. Falta ainda anunciar um headliner e eu aposto que a Everything Is New guardou para o fim um crowd-pleaser o Rock. Os Pearl Jam são uma possibilidade, mas eles estão em Londres nesse fim-de-semana. Aguardemos.

Todos sabemos da parceria do Alive com o Mad Cool e de como os festivais partilharam os cartazes nos últimos anos, muitas vezes apenas trocando os dias. Portanto esta mudança foi concertada, ou pelo menos acordada entre ambas as partes. Falta saber se quem ditou esta viragem foram os portugueses, se os espanhóis. Os primeiros números não são os mais animadores para o Alive. Num ano normal, por esta altura já os passes estariam todos esgotados e os grupos de trocas de bilhetes no Facebook já andariam a ferver com preços ultra-inflacionados. Até ver, anda tudo muito calmo para os lados de Algés.

Ao contrário da Bela Vista.

Nem tudo são más notícias para os roqueiros portugueses. A viragem à Pop no Alive abre o flanco para o regresso do Rock... ao Rock In Rio. Esta semana, o festival de Roberta Medina anunciou o nome de Liam Gallagher (obrigado, Roberta!) para o mesmo dia que Foo Fighters e The National, num cartaz épico, reminiscente das gloriosas edições dos Anos 00. A reacção do público foi imediata e logo no dia a seguir, esgotaram os bilhetes do Continente e os vouchers alocados ao dia do mancuniano, o que fez estalar a polémica nas sociais. Uma polémica das que se querem quando se organiza um festival. — quando toda a gente quer bilhetes e não há. Parece fácil, não é? Resta-nos esperar que o Rock In Rio perceba as dicas do mercado e anuncie nomes que se coadunem com a grandeza do festival e a vontade do público para o resto do cartaz. Bruce Springsteen, pretty please.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Gimme Californication - Venha daí esse novo álbum dos Red Hot Chili Peppers

John Frusciante está de volta aos Red Hot. Coisas boas que Vinte Vinte nos traz. 

Os loucos Anos 20 chegaram em força. Depois da fantástica notícia do regresso de John Frusciante aos Red Hot Chili Peppers em Dezembro passado, Chad Smith aumentou as expectativas, quando confirmou à Rolling Stone que os Red Hot estão a gravar um novo álbum com o seu novo-velho-eterno guitarrista. Significa isto que não será apenas uma reunião "à Guns N' Roses" para rechear a conta bancária, os Red Hot regressam com música nova. Exultem. É uma excelente notícia para começar a década que nos vai subtrair quase todas as lendas do passado. Os nossos ídolos dos anos 60 e 70 vão desaparecer e daqui a 10 anos, só restará o Keith Richards para contar aos poucos que sobreviverão ao apocalipse nuclear que se avizinha. É reconfortante por isso ter os Red Hot de volta à sua máxima força.

Frusciante regressa à banda de onde nunca deveria ter saído. Com ele, os Red Hot eram a banda completa. Cada elemento trazia ao grupo uma palete de influências diferente: Anthony Kiedis, o vocalista, trazia a batida do Hip Hop; Flea, o baixista, trazia o ritmo do Funk; Chad Smith, o baterista, trazia a mão pesada do Rock dos Sabbath e dos Zeppelin; John Frusciante, o guitarrista, trazia o sentido melódico de Elton John e os sons bizarros do Prog e do Psicadélico. Juntos, formaram uma força imparável que tomou os anos 90 em duas fases distintas: no início, com o fervoroso "Blood Sugar Sex Magik" (1991) e no fim, com o épico "Californication" (1999).

Este último foi a banda sonora do meu Liceu. Foi o disco mais tocado na rádio da Associação de Estudantes e o CD mais traficado no auge das cópias (lembram-se?). "Californication" foi ubíquo e unânime - o ponto de ligação entre os quatro cantos do pátio do Liceu. Foi o álbum que conseguiu unir as meninas da Pop aos fãs de Nu Metal (que estava na berra na altura); que conseguiu juntar os defensores da Britpop (como eu), com os que gostavam de Hip Hop. Basicamente, ligaram públicos diferentes da mesma maneira que a banda ligava elementos de influências distintas. O seu impacto foi imenso.

Importa lembrar que "Californication" foi também o álbum que marcou o regresso de John Frusciante aos Red Hot, depois de um interregno na banda entre 1992 e 1998, período em que foi lançado "One Hot Minute" com Dave Navarro na guitarra. Querem ver onde quero chegar, não querem? John foi para as sessões de "Californication" a fervilhar de ideias, apostado em fazer o melhor álbum de sempre dos Red Hot. Vinte anos depois, em 2020, a história repete-se. Repetir-se-á o sucesso? Aguardemos. Até lá, vou esfregando as mãos de entusiasmo. Os reis do Liceu estão de volta. E como rezam as eternas palavras de Keidis: "Come on everybody, time to deliver”. Ou então “ding dang dong dong ding dang dong dong ding dang”.