E eis que chegámos àquela altura do ano. 2022 está aí e é tempo de fazer a retrospectiva dos melhores discos do último ano. Sem mais demoras, vamos à lista.
10. Alister Fawnwoda / Suzanne Ciani / Greg Leisz — "Milan"
Um dos segredos mais bem guardados de 2021, "Milan" é o bebé electrónico da colaboração entre o rookie Alister Fawnwoda, da veterana e rainha dos sintetizadores Suzanne Ciani (uma das minhas artistas favoritas) e do guitarrista Greg Leisz. Na boa tradição cianista, "Milan" traz-nos os sons dos oceanos, com um disco de Ambient Music melódico, sombrio e expansivo. A banda sonora perfeita para um Domingo à noite, para lutar contra o Sunday Blues.
Faixa-chave: "Night Bunny"
9. Sault — "Nine"
Esta mensagem vai autodestruir-se em 99 dias. Qual Inspector Gadget, o novo disco dos Sault chegou com uma mensagem de autodestruição, avisando a sua disponibilidade limitada nos serviços de streaming. Uma cozinha de fusão de Soul, R&B, Downtempo e um cheirinho a hip hop de Little Simz. Naturalmente, no número 9 desta contagem.
Faixa-chave: "Bitter Streets"
8. The War On Drugs — "I Don't Live Here Anymore"
A banda de Adam Granduciel é o Mercedes da música Rock actual. Sólido, robusto e fiável, nunca faz um mau álbum. "I Don't Live Here Anymore" chegou com a pompa e a circunstância de cartazes gigantes no metro de Londres, normalmente reservados às Adeles e Ed Sheerans, sinalizando que já é uma aposta segura da editora. É um passou abaixo de "A Deeper Understanding" (2017) e "Lost In The Dream" (2014), mas nada temam — The War On Drugs nunca nos deixam mal.
Faixa-chave: "Living Proof"
7. Low — "HEY WHAT"
Quem disse que o número 13 dá azar? Os Low lançaram em 2021 o seu 13º álbum e o mais ambicioso da sua discografia. Pioneiros desde os anos 90, em "HEY WHAT", os Low trilham um novo caminho para o que pode ser um álbum Rock no futuro. Arrojado, parte electrónica, parte estática, parte Noise, não há caixa que sirva a este disco. Não é um disco para ouvir em qualquer dia, mas premeia repetidas e mais atentas audições.
Faixa-chave: "White Horses"
6. Neil Young & Crazy Horse — "Barn"
Faixa-chave: "Welcome Back"
5. The Anchoress — "The Art Of Losing"
Depois de várias experiências nem sempre bem conseguidas com Paul Draper (ex Mansun), Catherine Anne Davies (aka The Anchoress) finalmente cumpre o seu potencial com o vibrante "The Art Of Losing". É a entrada mais mexida desta lista, um disco de pérolas Pop, pleno de hooks, do qual sobressai o viciante tema-título, que é na minha opinião tão somente a canção do ano. Tu-tu-ru-ru.
Faixa-chave: "The Art Of Losing"
4. Floating Points, Pharoah Sanders & The London Symphony Orchestra - Promises
O disco que resultou da colaboração entre o músico electrónico Sam Shepherd (aka Floating Points), o saxofonista Pharoah Sanders e a orquestra sinfónica de Londres é um outlier do output discográfico de 2021. Normalmente, estes discos saem numa editora audiófila, em prensagens curtas, e para públicos niche. Este disco de Ambient maravilhoso, filho de obras de Brian Eno e Harold Budd, conquistou a crítica e invadiu as listas de todas as publicações musicais. Também está na minha, embora aqui os discos de Ambient Music sejam bastante mais frequentes (é a segunda entrada nesta lista).
Faixa-chave: "Movement 3"
3. Dry Cleaning —"New Long Leg"
O "Lulu" que deu certo. Os Dry Cleaning apareceram em 2021 com a mesma fórmula que os Metallica e o Lou Reed apresentaram há 10 anos. Só que em vez dos Metallica, temos uma derivação londrina dos Joy Division e em vez do Lou Reed, temos uma operadora de uma linha erótica — a excelente Florence Shaw. "New Long Leg" é o disco de estreia dos Dry Cleaning e deixa-nos com água na boca para o que há de vir.
Faixa-chave: "Leafy"
2. Actors — "Acts Of Worship"
Por falar em derivações de Post-Punk, os Actors chegam-nos do fim do mundo, Vancouver, com um disco de sintetizadores apocalípticos para nos falar de morte e do fim do mundo. É uma absoluta revelação que ainda está por descobrir pela maioria das publicações musicais em todo o mundo. O segredo musical mais bem guardado de 2021. Vão à confiança.
Faixa-chave: "Once More With Feeling"
1. Sam Fender — "Seventeen Going Under"
Numa época em que não há um estilo mainstream dominante e somos bombardeados por uma miríade de discos que tentam sair fora da caixa em todas as direcções (esta lista tem alguns exemplos disso mesmo), por vezes é fácil esquecermo-nos do mais importante — a canção. A arte do ofício. E na arte de escrever uma canção (ou dezasseis), ninguém tocou em Sam Fender em 2021. Fender vem sem medo e arrisca pôr um solo de guitarra numa música em 2021. Melhor: faz o impensável e pinta o seu disco com solos de saxofone! Em 2021! "Seventeen Going Under" é uma revelação e uma esperança. Esperança no que pode vir a seguir. Revelação nas canções maduras, de inspiração inocente e realização dos desafios da idade adulta — é o "Born To Run" de Sam Fender. A influência de Bruce Springsteen é óbvia e se me lembra do Boss, isso só pode ser bom. E tal como o seu manager Jon Landau escreveu quando viu Bruce pela primeira vez em 1974, eu também reitero — eu vi o futuro do Rock 'n' Roll e ele chama-se Sam Fender.
Faixa-chave: "Get You Down"
Menções honrosas
20. The Coral — "Coral Island"
19. Godspeed You! Black Emperor — "G_d's Pee at State's End!"
18. IDLES — "CRAWLER"
17. black midi — "Cavalcade"
16. Squid — "Bright Green Field"
15. Black Country, New Road — "For the first time"
14. Mogwai — "As The Love Continues"
13. Amorphous Androgynous — "We Persuade Ourselves We Are Immortal"
12. Wolf Alice — "Blue Weekend"
11. Sharon Van Etten — "epic Ten"