A história de paixão do cronista da NiT pelo Reino Unido, agora consumada com a vacina da Covid-19
Toda a vida cresci fascinado com o Reino Unido. Muito à custa da música, a minha história de amor com o UK começou cedo, de tal forma que quando tive a primeira aula de inglês aos 6 anos, a minha motivação era levar o livrete do Greatest Hits dos Queen à professora, para me traduzir títulos como "Bohemian Rhapsody" e "Headlong" (estávamos nos early 90s e não havia internet) que, hoje sei, nem ela sabia como explicar. A paixão nunca esmoreceu com os anos e quando comecei a ganhar dinheiro para viajar, ir a Londres estava no topo da minha lista de destinos. Repeti a viagem vezes sem conta, em média três vezes por ano, sempre com o pretexto de ver concertos. Em 2018, consumei o meu amor por este país e mudei-me para Londres. A cidade deu-me tantas coisas boas, que a minha estadia aqui só fez com que o amor antigo crescesse ainda mais. Esta semana, fiquei ainda mais enamorado, quando levei a primeira dose da vacina contra a Covid-19, algo impensável se ainda estivesse em Portugal.
Longe de mim alguma vez advogar em favor do Brexit, mas num mundo onde só se foca o negativo, permitam-me realçar o lado positivo — se há uma coisa em que os Brits saíram à frente de toda a Europa, foi no programa de vacinação contra a Covid-19, que tem sido um estrondoso sucesso no Reino Unido e que, na prática, só foi possível devido ao Brexit. E isto são factos: o Reino Unido é de longe o país com maior taxa de vacinação da Europa e o 5º país no mundo inteiro, apenas atrás das Seychelles, Israel, Butão e Maldivas (Portugal é o 27º). Nesta altura, 47% da população já recebeu pelo menos uma dose da vacina. Esta semana, foi a minha vez.
É verdade que, em condições normais, alguém da minha idade (35 anos) não seria ainda vacinado, mas a minha asma alguma vez haveria de ser útil para alguma coisa e agora foi a hora. Imagino que a vossa próxima questão seja relativamente à origem da vacina. Sim, foi a da AstraZeneca. Como toda a gente que lê notícias, também eu fiquei com as minhas reservas quando soube que era esta a vacina que ia levar, tal a avalanche de informação a dar conta dos seus riscos e o pânico que a mesma gera, mesmo sabendo que são inferiores aos da pílula anticoncepcional. Quando entrei na sala onde ia levar a vacina, dei a conhecer as minhas preocupações às senhoras da pica, que rapidamente, e de forma extremamente britânica, afundaram as minhas questões:
Nuno: "So I’m taking the unpopular vaccine, eh?"
("Então quer dizer que vou levar a vacina impopular, não é?")
Senhoras da pica: "What do you mean unpopular? I’d say it’s very popular. THE QUEEN took this vaccine. If it’s good for the Queen, it surely is good enough for you!"
("Como assim impopular? Eu diria que é muito popular. A RAINHA (Queen) levou esta vacina. Se é boa para a Rainha, é boa para si de certeza!")
Nuno: "Oh is it the Queen vaccine? Then let’s have it! I’m a massive fan."
("Ah é a vacina da Rainha? (trocadilho com a "vacina dos Queen"). Então venha ela. Sou grande fã.")
E pronto, já levei a minha primeira pica e estou muito contente e agradecido ao Reino Unido por (mais) oportunidade que me atiraram. Cada vez gosto mais deste país.
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