O mundo acordou recentemente para uma Adele diferente — mais magra (impossível não referir o óbvio) e alegadamente mais feliz. Mas momentos felizes não fazem um álbum da Adele e por isso este dá pelo nome de "30", idade em que ela o começou a escrever há 3 anos, quando passava pela tormenta de um divórcio. Divórcio? Assim sim, já temos um disco da Adele. Trataram mal a Adele e ela quer falar sobre isso.
O single de avanço "Easy On Me" aterrou no nosso Spotify à meia noite de Quinta para Sexta-Feira num evento interplanetário a fazer jus à importância que Adele tem na indústria de hoje. Como é hábito em música nova de artistas desta craveira, os superlativos não tardaram a chegar — "Adele voltou melhor que nunca!", lê-se por todo o lado. Calma. Basta uma visita às suas redes sociais para perceber que os longos intervalos entre discos deixaram os fãs tão desesperados por música nova, que à hora do refresh do Release Radar no Spotify é quase irrelevante que esta seja boa ou má. Estão apenas contentes por ter alguma coisa nova, depois de anos de seca. Não é uma característica dos fãs da Adele, isto acontece comigo também, embora com artistas diferentes. Como neste caso posso ter algum distanciamento, após uns dias de maturação, mantenho a primeira impressão que tive quando ouvi o tema pela primeira vez na madrugada de Sexta-Feira — a Adele pode estar diferente, mas a sua música soa exactamente igual.
É difícil apontar exactamente qual dos seus temas anteriores Adele foi beber para "Easy On Me", porque parece que tem um bocadinho de tudo. Desde a clássica lírica melodramática, ao tom melancólico, à produção minimalista do piano, até ao falseto no feeeeeeeel / eeeeeeeeasy on my baby, que já ouvimos mil vezes antes. Sem copiar um tema em específico, Adele fez o mesmo que aquele bot que criou um tema "novo" dos Nirvana, fundado numa base de dados com os outros temas todos. "Easy On Me" soa imediatamente familiar, como algo que já ouvimos mil vezes no supermercado. Que é precisamente o que vai acontecer na quadra que se avizinha. Quando chegar o Natal, voltamos a falar.
Outrora um tesouro britânico, com toda a espontaneidade e inadequabilidade associada, a Adele parece ter sido raptada definitivamente pelos americanos. Os ângulos começaram a ser polidos no álbum "25" e julgando por "Easy On Me", a sua música parece vir agora com pele de bebé.
Talvez seja eu que, confesso, não sou o maior fã das baladas da Adele. Gosto mais quando ela injecta um pouco de ritmo como em "Rolling In The Deep" (continua um temaço, 10 anos depois), ou um pouco de ambience como em "Skyfall". Espero que o novo disco tenha um pouco de variedade e se não for o caso, então que arrisque aproveitar esta fase mais feliz da sua vida para escrever algo de diferente. A Adele é melhor quando bate o pé e não está constantemente a tentar regurgitar o "Someone Like You", agora em versão seda. Espero melhor, muito melhor que isto no álbum que aí vem.
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