Desfolhada Portuguesa: as dez melhores canções portuguesas da Eurovisão
O cronista da NiT lista as melhores canções que Portugal levou à Eurovisão
Estamos em semana de Festival da Eurovisão e hoje Portugal joga o acesso à final de Sábado. Antes de torcer pelos Black Mamba na semi-final de hoje, recordemos algumas das melhores entradas portuguesas do passado, na contagem das minhas 10 canções favoritas que representaram Portugal na Eurovisão. Escusado será dizer que é uma lista pessoal e inevitavelmente influenciada pela minha infância, quando seguia o festival mais de perto. Acho que nunca recuperei da desilusão de ver Rui Bandeira (grande cabelo, ó Rui) afundar na Eurovisão de 1999, a que se seguiram anos negros de fracas prestações e canções esquecíveis, até àquela noite mágica de 2017 em Kiev. Sem mais demoras, vamos ao top 10.
10. Da Vinci — "Conquistador" (1989)
Tendo nascido em Novembro de 1985, no festival de 1989 tinha apenas 3 anos, mas por algum motivo (haverá com certeza uma explicação para isto), todas as minhas memórias mais remotas estão ligadas a música e o primeiro tema que eu tive noção de sair do Festival da Canção foi o "Conquistador" dos Da Vinci. No infantário, foi um hit que martelou a sala ad nauseam, mesmo que na altura ninguém ali soubesse bem do que se tratava. Estávamos no infantário, pois claro. Hoje em dia, um tema inofensivo como o "Conquistador" seria impossível de chegar à televisão. Já estou a imaginar os gritos de "colonialistas", "imperialistas", "racistas" e outras parvoíces que seriam atirados aos Da Vinci. Ah os 80s. Quando nos podíamos divertir com coisas mundanas.
9. Paulo de Carvalho — "E Depois Do Adeus" (1974)
A canção que ficará para sempre ligada à revolução de 25 de Abril de 1974, por ter sido a primeira senha que na noite de 24 deu sinal 'as tropas para estarem a postos para o que aí vinha. "E Depois Do Adeus" não tinha nada a ver com política e por isso mesmo foi o tema escolhido, para não evitar suspeitas. Paulo de Carvalho ficou eternizado naquela noite, depois de uma prestação modesta no Festival da Eurovisão de Brighton, poucas semanas antes da revolução.
8. Dina — "Amor D'Água Fresca" (1992)
Continuamos com as minhas memórias do Jardim Escola (aqui "já" tinha 6 anos), desta vez para um tema de apelo transversal. Amor e frutas, o que há para não gostar? Olhando hoje para trás, "Amor D'Água Fresca" era um peso demasiado leve para a Eurovisão e a Dina, tendo um dom raro para a melodia (raio da música do CDS que nunca sai da cabeça), nao tinha propriamente aquele look de Pop Star necessário para triunfar contra as estampas da Hungria e da Lituânia. É pena, a música era muito boa.
7. Dulce Pontes — "Lusitana Paixão" (1991)
Depois dos Da Vinci em 1989, voltámos a puxar pelo sentimento tuga com a Dulce Pontes em 1991. No prelúdio de uma carreira fenomenal, a Dulce levou a Roma a "Lusitana Paixão", uma ode ao fado, MAS (wink, wink) tinha mais de Stevie Wonder do que de Amália. Não que isso seja mau e a prova é que a Europa gostou e a Dulce teve uma excelente prestação. Bem, pelo menos para o contexto português, que na Eurovisão é de fuga 'a despromoção.
6. Salvador Sobral — "Amar Pelos Dois" (2017)
Mas na Eurovisão, como na bola, de vez em quando aparece um tomba gigantes e até o Sporting ganha o campeonato e Portugal ganha o Festival da Eurovisão. Em 2017, Portugal apareceu em Kiev com um tema que era a antítese de toda a foleirada que a Eurovisão representava e o impensável aconteceu - ganhámos. E não só ganhámos, como ganhámos com a canção menos eurovisionável possível. Na altura muito se escreveu em como a vitória de Salvador Sobral com o belíssimo "Amar Pelos Dois" representava uma mudança de paradigma na música e na Eurovisão. Certo. No ano seguinte, com o festival em Lisboa, ganhou a pior canção que me lembro de ouvir na Eurovisão. O que é que mudou desde então? Nada. Salvador foi um alien na Eurovisão e isso não é necessariamente mau. O alien é nosso.
5. Carlos Paião — "Play-Back" (1981)
Em pleno auge dos sintetizadores, Carlos Paião levou a Synth-Pop portuguesa à Eurovisão, com uma crítica à música plástica e aos cantores sem voz que começavam a proliferar na altura. O tema era brilhante e certeiro, mas a Europa não percebeu e "Play-Back" nao foi além do 18º lugar. Os anos seguintes iriam provar que a carapuça serviu 'a Eurovisão e o Carlos estava certo. Grande Carlos, grande talento.
4. Sara Tavares — "Chamar A Música" (1994)
A Sara foi a Dublin com 16 aninhos para mostrar um vozeirão à Europa e que pena que nao foi além do 8º lugar. Foi uma boa classificação para Portugal, eu sei, mas "Chamar a músicá" apanhou-me na fase de maior euforia com a Eurovisão e a canção era tão boa que estava convencido que íamos ganhar. Uma pena.
3. José Cid — "Um Grande, Grande Amor" (1980)
"Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye / Amore, amour, meine Liebe, love of my life". Se há canção da Eurovisão que entrou para o cânone da cultura popular portuguesa, foi esta ode ao amor emigrante do José Cid. O Zé levou à Holanda um penteado que iria definir os agrobetos ribatejanos durante décadas (conheci uns quantos tirados a papel químico) e uma música para ganhar. Diria até que em toda a história do Festival da Canção, não consigo pensar em tema mais eurovisionável que "Um Grande, Grande Amor". Ok, o título é capaz de ser fatela (já não usava esta palavra há uns 15 anos), mas a canção preenche todos requisitos. Começando pela letra, europeia e acessível. Justificando as comparações, José Cid nunca soou tanto com Elton John como neste tema (aliás, em 1980, Cid soava mais a Elton que o próprio Captain Fantastic e é bastante discutível quem era melhor). José Cid igualou na altura Carlos Mendes na melhor classificação de sempre para Portugal (ficámos em 7º), mas soube a pouco. O Zé merecia mais.
2. Simone de Oliveira — "Desfolhada Portuguesa" (1969)
Simone, o furacão português, foi a Madrid em Março de 1969 para trazer o caneco da Eurovisão. A aposta era forte, mas fundada. A "Desfolhada Portuguesa" era um tema poderoso e viciante, que se afigurava como um dos principais favoritos à vitória daquele ano. Portugal parou para ver Simone de Oliveira fazer uma interpretação sísmica e atingir... Um inenarrável 15º e penúltimo lugar. "Portugal venceu com o penúltimo lugar", denunciou na altura a revista Flama. A Europa deve ter corado de vergonha quando deu 4 pontos a Simone de Oliveira. Bem, a Europa não sei, mas os espanhóis coraram de certeza, porque correram para o camarim dela para imediatamente lhe pedir desculpas pelo vexame. Vexame deles, claro, que a Simone esteve fantástica. "Sigo cantando", atirou ela, do alto de quem sabe que fez a sua parte. É a rainha do festival da Eurovisão e qualquer lista com as melhores músicas tem que ter a Simone no topo. Bem, a minha não tem, mas já vão perceber porquê.
1. Anabela — "A Cidade (Até Ser Dia)" (1993)
A Anabela foi o meu primeiro grande crush de criança, tinha eu 7 aninhos (ela tinha 16, por isso hey, não é assim TÃO esquisito). Talvez pela minha paixoneta de infância, eu seja tao parcial relativamente à perfeição de "A Cidade (Até Ser Dia)". Para mim, a canção que a Anabela levou à Irlanda continua a ser a melhor que Portugal teve na Eurovisão. É tudo perfeito. Desde o charme urbano das trompetes a anunciar o refrão, passando pelo crescendo vocal até uma nota impossível no refrão ("cidadeeeeee" — na atabalhoada versão das semi-finais do Festival da Canção ela ainda não a arriscava), até à entrada triunfal das backing vocals que complementam na perfeição a voz angelical da Anabela. Já passaram quase 30 anos e ainda me apaixono por ela sempre que recordo o vídeo no Youtube. Se isto não é o poder de uma canção, não sei o que é.
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