terça-feira, 11 de outubro de 2016

Vamos lá falar nos Bon Jovi

Os Bon Jovi têm um tema novo. E é mau que dói.


Não, esta não é mais uma crónica a desancar nos Bon Jovi como uma banda foleira, kitsch, ou outro chavão qualquer que se habituaram a ler na imprensa. Nem eu me atreveria a tal heresia, por dois motivos: em primeiro lugar, porque tenho amor à vida e não me quero meter com os fãs portugueses da banda, que são em tal número (58.5 mil no Facebook!) que em jogos de Champions mal cabiam no Estádio da Luz e tão poderosos que em 2011 obrigaram a Zon / Nos a retirar um anúncio do ar; em segundo, porque isso simplesmente não é verdade. Ao contrário do que vos fizeram crer, Bon Jovi rocks. Sim, é música despretensiosa, invariável e despida de múltiplas layers de interpretação. Mas e depois? It's a lot of fun. Cantar o refrão de "Livin' On A Prayer" a plenos pulmões não é só um cliché do Plateau: é terapêutico.

Não tenho problema nenhum com o Hair Metal. Da mesma forma que gosto de deprimir com uns Joy Division, também preciso do hedonismo stripper de um "Pour Some Sugar On Me", ou da simples pieguice de um "Love Bites". E por que não? Até os (sobreviventes) JD precisaram de sair da penumbra e formaram os New Order. Não andei no liceu na época, por isso sou imune aos preconceitos do status quo de então, olho para tudo com maior distância emocional. Aliás, toda a gente parece divertir-se tanto com as suas fartas permanentes nos videoclips dos anos 80, que não raramente eu fantasio em fazer uma, se tal fosse socialmente aceitável em 2016. Mas divago. Voltemos aos Bon Jovi.

De banda de proa de Hair Metal e ídolos Pop dos anos 80, os Bon Jovi metamorfosearam-se em standards clean dos 90s, munidos de Ray-Bans, cabelo liso (lá se foi a permanente) e vídeos em tons de sépia. Nesta transformação, os Bon Jovi mantiveram-se sempre os Bon Jovi, cool à sua maneira suburbana, sempre a tentar rescrever a mesma música, uma e outra vez, sem nunca venderem a sua sonoridade à moda vigente. E o mundo continuou a amá-los por isso. Eu pelo menos continuei.

Depois vieram os 00s e os Bon Jovi conseguiram a proeza de voltar aos liceus com "It's My Life" (desta vez quem lá andava era eu) - adivinhem como - ao continuarem a ser os Bon Jovi. "It's My Life" era uma cópia de "Livin' On A Prayer", mas era isso mesmo que o público queria. Havia diferenças: desta vez o vídeo começava com um jovem a escrever um e-mail (o advento da internet!) e, claro está, já não havia permanentes no cabelo (tirando o teclista David Bryan, que se manteve como o bastião Hair Metal da banda). De resto, a receita foi a mesma de sempre. O que me leva até ao dia de hoje, quando ouvi o novo single da banda de New Jersey, "Born Again Tomorrow". Parece que os Bon Jovi decidiram, finalmente, inovar. E o resultado é trágico.

O primeiro single do novo álbum "This House Is Not For Sale", com o mesmo nome, foi lançado em Agosto e era Bon Jovi em piloto automático. Tudo na mesma, parecia apenas um pretexto para voltar às digressões. "Born Again Tomorrow" mostra uns Bon Jovi diferentes; diferentes, na medida em que me pela primeira vez me apeteceu cravar uma lapiseira nos ouvidos ao ouvir Bon Jovi.

Em "Born Again Tomorrow", Jon Bon Jovi decidiu "modernizar" a sonoridade da banda, que é o mesmo que dizer que decidiu que a banda devia soar igual a tudo o resto que passa na rádio. Por outras palavras, decidiu Coldplayzar os Bon Jovi. Há ali a meio um solo de guitarra de 10 segundos que soa mais ou menos a Bon Jovi, mas de resto, aquilo soa tanto a Coldplay que parece que a qualquer momento vai sair um "'cos you're a skaaaay, 'cos you're a skaaaay". Até dói.

Jon Bon Jovi parece perdido desde que o guitarrista da banda Richie Sambora se foi embora em 2013. Pelos vistos, Richie era a alma da banda e tinha um papel muito mais importante do que poderíamos pensar (e sempre teve bom gosto). O que se passa com Jon? O desespero para voltar aos liceus é assim tão grande? Será que o convenceram que para tocar na RFM, é preciso soar como a toda a trampa que lá passa? Um dia Jon disse que a diferença entre tocar em arenas e em estádios era um "hit single". Mas isso foi há duas décadas. Os anos provaram que os Bon Jovi não precisam disto para encher as grandes salas, até porque nos estádios ninguém quer ouvir as músicas novas. Querem os clássicos de peito cheio, querem o Richie de volta (por favor) e querem os Bon Jovi iguais ao de sempre. Até porque, se a inovação é isto, mais vale estarem quietos.

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