quarta-feira, 8 de novembro de 2017

O dia em que Marilyn Manson subiu ao palco com uma metralhadora

...e foi a melhor coisa que fez em 20 anos

Num dos seus melhores bits, o falecido comediante, filósofo mundano e meu camarada rocker Bill Hicks dizia que queria ver as suas estrelas Rock a entrar em palco com o instrumento numa mão e uma arma na outra, despedindo-se do público com um tiro na cabeça no fim do concerto. Isso sim, seria o clímax perfeito para um espectáculo que se quer o mais visceral possível.

Marilyn Manson elevou a parada esta semana e subiu a palco no tema "We Know Where You Fucking Live" com o que parecia ser uma metralhadora. Sem mais, apontou a arma ao público e "abriu fogo". Na verdade, a metralhadora era só um microfone, mas deve ter pregado um belo susto a quem lá estava.

Roger Waters já tinha aventado esta ideia na preparação do espectáculo original do álbum The Wall. Farto do público nos concertos dos Pink Floyd, Roger imaginou bombardeamentos sobre o público como metáfora do famoso incidente da cuspidela em Montreal (Roger chamou um fã da fila da frente para cima do palco e cuspiu-lhe na cara). O efeito nunca foi posto em prática, mas se havia alguém capaz de levar uma ideia arriscada deste tipo adiante, esse alguém seria Marilyn Manson. Só que ele fez isto no mesmo dia em que um homem entrou numa igreja com uma arma automática e matou 26 pessoas. Não é preciso ser bruxo para adivinhar que a reacção da inquisição moralista das redes sociais e da brigada do bom-gosto de alguns órgãos de comunicação social foi implacável, ao ponto de superar a indignação relativamente ao próprio atentado do Texas.

Os espectáculos de Marilyn Manson são provocatórios e ofensivos. Sempre foram. Noutras notícias, a água molha e o sol queima. Não sou o maior fã da música de Marilyn Manson, a banda; mas sempre tive um certo fascínio pela figura de Marilyn Manson, o homem. Brian Warner, o auto-proclamado "God of Fuck", é um one of a kind; foi ele a última estrela Rock capaz de chocar o mundo com histórias tão macabras que todos queríamos acreditar que fossem verdade. Retirar costelas para fazer um auto-felácio? Por que não? Vazar o próprio olho para substituir por um de vidro? Claro que sim. Antes dele, houve Iggy, Ozzy e Alice. Depois dele, mais ninguém.
"In an era where mass shootings have become a nearly daily occurrence, this was an act of theater in an attempt to make a statement."
Marilyn Manson

É como diz MM. Uma vez que os atentados terroristas são um acontecimento quase diário nos Estados Unidos, estes raramente já são notícia. Até porque neste caso o atirador não era islamita e como tal, já não é terrorismo, é só "um louco com uma arma". Até porque se há mais armas que pessoas no território americano, então é normal que isto aconteça com frequência e cada vez mais vezes. Portanto compreendamos os órgãos de comunicação: aqui a verdadeira notícia não é um gajo entrar numa igreja a varrer com uma metralhadora, é o Marilyn Manson entrar em palco com uma metralhadora de brincar.

Foi a melhor coisa que Marilyn Manson fez desde 1997. Ou vá, pelo menos desde aquele maravilhoso cover do "Personal Jesus" em 2004. Não só canalizou sobre si a atenção que pretendia, como também abriu alas ao ridículo que são os indignadinhos do mundo moderno, preocupados com merdas sem interesse nenhum, deixando as verdadeiras aberrações votadas à normalidade. Se a arma de brincar do Marilyn Manson nos aterroriza mais que as armas a sério, devem ser essas que devemos banir.

Quanto a quem estava na sala, pelo menos saíram de lá aterrorizados, com o susto de uma vida. Se isso não é um espectáculo visceral como se quer, não sei.


É o que se pode chamar de espectáculo .

The left the room with the thrill of their lives. That's when you know you've been to a great show.
That's a show.

Para além da atenção que reuniu

Foi punk
Actually, it was punk and it was genius. The best thing he ever did since 1997.
At least it got stereogum (and other outlets) to speak more about him holding a fake gun than all the real guns being shot at that country.
Marilyn Manson does offensive, provocative thing on stage. In other news, fire is hot and water is wet.

Se isto não é um espectáculo de emoções ao rubro, não sei.


(e poucos dias depois
Vale relembrar que a imagem é polêmica já que os EUA vivem passando por atentados cometidos por atiradores tal como o ocorrido no começo de outubro, quando um deles matou 59 pessoas e feriu mais de 500 durante um festival country em Las Vegas.

Já ninguém liga.

A páginas


Fez com que se desse mais cobertura ao stunt dele do que ao facto que um gajo entrou numa igreja a varrer tudo com uma arma

Às tantas

Nós estamos à distância de um oceano dos americanos

não se fez esperar.
Só que não era uma metralhadora a sério.




- Marilyn Manson
https://www.youtube.com/watch?v=LdzaFASKB5M




(MC Somsen)

Chamava-se Devin Patrick Kelley e, como sempre acontece nestes casos, não era um terrorista, porque os terroristas espalham o medo e o terror, enquanto estes assassinos, cuja motivação política, religiosa ou ideológica ninguém consegue explicar, “apenas” espalham a morte.
Isto contudo não invalida que nos EUA continue a ser maior o medo de terroristas que de assassinos comuns munindo as suas armas de forma banal.
Há um lado absolutamente inconsciente e profundo na cultura americana que leva a que estes casos sejam sempre excepcionais, ou apenas justificados por um homem louco, quando a maior loucura é esta liberdade institucional e constitucional de que qualquer americano tem o direito de pegar em armas para matar outro americano, a torto e a direito.

Notem que quando falo em fascínio, eu quero dizer mesmo é MEDO. Era o que aqueles

Quando era mais novo, o que eu tinha mesmo era MEDO. Aqueles vídeos surreais eram demais para a mente perturbável de um miúdo de 11 anos (ainda hoje não consigo ver "Begotten" — filme do realizador de "Antichrist Superstar", que se mantém unreleased até hoje).
 mas ele assustou-me quando eu era miúdo (Ver artigo) E pelos vistos continua com essa capacidade

Cryptorchid
https://www.youtube.com/watch?v=Jj_vCNevsfY

mórbido



Assumindo o papel de inimigo público, Manson (o homem) capitalizou – e de que maneira – a imagem de anticristo que se criou sobre ele no final dos anos 90. Foi ele que a alimentou e à sua custa, fez com que a música chegasse a muito mais pessoas.
Hoje vivemos tempos muito diferentes e Manson jamais terá o poder de choque de outrora. O problema é que se o poder de choque desvaneceu com os anos, a música também não melhorou. Mas isso é outra história.


Pena que as digressões fossem muito curtas.

ara atirar sobre a audiência.

chocou o seu público ao apr sentar-se em palco com uma arma e 


Isso sim, seria um concerto para contar aos amigos.


https://www.facebook.com/Pitchfork/posts/10155730026001000
https://www.facebook.com/Stereogum/posts/10155951976786979

https://www.facebook.com/businessinsider/videos/10155204911269071/


Fuck that! I want my rockstars dead! I want 'em to fucking play with one hand and put a gun in their other fucking hand and go, "I hope you enjoyed the show. Bang!" Yes! Yes! Play from your fucking heart!... I am available for children's parties, by the way.

Bill Hicks

Início
Bill Hicks descreveu o seu show Rock n roll perfeito






A juntar à imagem sinistra do vocalista, os Marilyn Manson (a banda) trouxeram-nos música que parecia saída de uma trituradora The Prodigy e Black Sabbath em esteróides, regados com muito vodka do Lidl. Um cocktail abrasivo.







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