Roger Waters está de volta. Regozijemos.
Abram as garrafas de champanhe. Vinte e cinco anos depois do último álbum, o auto-proclamado "génio criativo dos Pink Floyd" está de volta com música nova. Porquê agora? Porque o tio Roger está furibundo com o mundo e como sempre que isso acontece, tem coisas para dizer. Muitas coisas. Como não lhe dão a devida atenção nas entrevistas, resolveu então dizer tudo da melhor forma que sabe: com música no meio do discurso (e não o contrário).
O caminho que levou Roger até aqui, ao qual eu gosto de chamar de "purificação de Waters" (deixem assentar esse trocadilho), começou no seu crescente domínio no espaço dos Pink Floyd, cristalizado nos auto-biográficos "The Wall" e "The Final Cut" e continuou na sua discografia a solo, onde a importância dada à música foi progressivamente substituída pela atenção à palavra. Sem o input de David Gilmour para ajustar uma melodia aos seus discursos, a música foi chutada para pano de fundo, cada vez mais elusiva, até ao seu aparente esgotamento em 1992. Desde aí, não se ouviu mais música de Roger (não estou a contar com o auto-indulgente "Ça Ira", uma ópera que só a ele interessava).
Mas Roger está mais velho e mais sábio e já percebeu que precisa de um input externo para musicar as suas intervenções. Por isso recorreu a Nigel Godrich - produtor dos Radiohead -, que o manteve focado a produzir um álbum que tivesse uma estrutura e sonoridade "à Waters". A primeira conquista de Nigel foi fazer Roger abandonar a ideia de uma radio-novela sobre um avô e a sua neta que investigavam por que tantas crianças morriam no Médio Oriente. Se acham este conceito insípido, lembrem-se que o primeiro álbum a solo de Roger ("The Pros And Cons Of Hitchicking") narra, em tempo real, um sonho de um homem entre as 04:30 e as 05:12; e que o segundo ("Radio K.A.O.S.") conta a história de um miúdo esquizofrénico que é possuído por ondas de rádio e ameaça provocar um holocausto nuclear. Louvado seja Nigel, portanto.
Eu disse música nova? Mais ou menos. A primeira amostra do novo álbum - "Is This The Life We Really Want?" - é o furioso "Smell The Roses", um tema que é basicamente um rip-off directo de "Have A Cigar", com algumas texturas de "Dogs" e de "Pigs (Three Different Ones)" lá pelo meio. É uma reciclagem do seu próprio material antigo com nova roupagem, mas e depois? É Roger Waters puro e duro. Nesta fase da sua vida, já não se preocupa em se reinventar, só quer expressar os seus pensamentos e ideais. De forma musicalmente derivativa, sim, mas os originais são dele e o conceito de "auto-plágio" não existe. Se eu tirar dinheiro da minha carteira, ninguém dirá que me estou a roubar.
"Is This The Life We Really Want?" foi gravado ao longo dos últimos 7 anos e será editado dia 2 de junho com o seguinte alinhamento:
1. "When We Were Young" (1:38)
2. "Déjà Vu" (4:27)
3. "The Last Refugee" (4:12)
4. "Picture That" (6:47)
5. "Broken Bones" (4:57)
6. "Is This The Life We Really Want?" (5:55)
7. "Bird In A Gale" (5:31)
8. "The Most Beautiful Girl" (6:09)
9. "Smell The Roses" (5:15)
10. "Wait For Her" (4:56)
11. "Oceans Apart" (1:07)
12. "Part Of Me Died" (3:12)
Algumas das faixas que já tinham sido confirmadas por Roger - "Crystal Clear Brooks", "Safe and Sound" e "Lay Down Jerusalem (If I Had Been God)" -, afinal não aparecem no álbum. Obra de Nigel, aposto. De facto, um tema que se chama "Lay Down Jerusalem (If I Had Been God)" não soa a nada que possa ser minimamente aprazível, para além de reforçar a fama egomaníaca de Roger. Esperemos que o novo álbum esteja (pelo menos) à altura deste agressivo "Smell The Roses". E não, não me importo com reciclagens.
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