Março foi estranho. Mês de altos e baixos, começou com o entusiasmo da antecipação da Primavera deste ano, logo interrompido pela depressão do Inverno antecipado do ano que vem. Not cool. "Où Est le Soleil?", como perguntava o Paul McCartney no B-Side de "Flowers In The Dirt", disco de 1989 gravado com Elvis Costello que foi este mês lançado em formato Deluxe (e aí está a minha referência mandatória aos Beatles, logo no subtítulo)Nesta fina linha entre o entusiasmo e a depressão das últimas semanas, valeu a enxurrada de música que nos chegou, com álbuns novos dos Real Estate, Sleaford Mods, Father John Misty, The Jesus And Mary Chain, Jarvis Cocker (dos Pulp) e muito mais pelo meio. Senhoras e senhores, bem-vindos a uma viagem pela já clássica playlist mensal da NiT, com as melhores de sempre... do mês passado.
Como o sol está aí outra vez e eu quero música para ouvir de janelas abertas e vento na cara, começamos a playlist de Março com as guitarras estridentes de "Wake Up" dos Circa Waves, banda de Liverpool que vem ganhando visibilidade com o seu segundo álbum "Different Creatures". Não sei ao certo ao que vêm estes rapazes, mas que vêm com toda a força, lá isso vêm.
Seguimos de janela aberta com os Temples (aqui não há Queen, Rafa, desculpa!), também eles no segundo álbum "Volcano". Estes, aposto, já dispensam apresentação. Os Temples continuam, e bem, na crista da nova onda de Psychedelia onde os Tame Impala são McNamaras e os Pond (que também têm tema novo) são um gajo qualquer bom mas nem de perto tão bom como o McNamara, mas cujo nome eu não sei porque não percebo puto de surf e já levei esta metáfora longe demais para a minha bagagem no assunto.
The New Pornographers já nos tinham brindado com uma grande malha em Janeiro — "White Ticket Attractions" — e continuaram este mês a mostrar o seu "Whiteout Conditions" que está quase a chegar, desta vez com o tema-título. Não consigo decidir qual a melhor amostra do novo álbum, mas garanto-vos: podem continuar de janela aberta a beber esse sol. E por falar em beber sol, vamos dar um passeio à praia com os já veteranos The Shins e este caloroso "Name For You", retirado do primeiro álbum da banda em 5 anos — "Heartworms". E já chega de sol, avancemos para algo mais obscuro.
É possível que nunca tenham ouvido falar nos Mount Eerie. Eu também não, até recentemente. Um pouco de contexto então: os Mount Eerie são o projecto musical do músico e produtor Phil Elverum, que contou com diversos colaboradores ao longo dos anos. Entre eles, a sua mulher Geneviève Castrée, que participou em quatro álbuns da banda do marido. Em Julho do ano passado, Geneviève morreu com um cancro no pâncreas, um ano depois do diagnóstico. Menos de um ano volvido, chega-nos um novo álbum dos Mount Eerie com o relato cronológico do processo de luto de Phil Elverum. E é brutal. Mas não é aquele brutal de quando saímos do cinema depois de uma reposição do "Blade Runner" e dizemos "ei, foi brutal!". Não. Isto é brutal no sentido bruto da palavra. É heartbreaking: "I don't want to learn anything from this, I love you".
A surpresa do mês esteve a cargo da banda extraconjugal de Damon Albarn — os Gorillaz — que anunciaram inesperadamente um álbum novo a abarrotar de convidados e desde logo mostraram três faixas novas. Uma delas é "We Got The Power" com Jehnny Beth das Savages e um convidado muito especial: Noel Gallagher. Esse mesmo. Enquanto esperávamos por novidades do mano mais novo (que deve estar a rebentar com o seu primeiro single a solo), Noel decidiu ao cortar aos bocados o que restava da Britpop, fazendo as pazes com o seu ex-arqui-inimigo. Mas pior que o rol de negligências de Noel (primeira parte dos U2, Noel? A sério?), pior que o esdrúxulo álbum novo do Jarvis Cocker dos Pulp (deve ser o Brexit que anda a deixar tudo maluco na ilha), é saber que a Britpop já merece honras de artigos na Pitchfork. Agora sim, a Britpop morreu. Viva a Britpop! I guess.
Igualmente esperado era o novo dos Real Estate. "In Mind" tem a matriz de um álbum standard da banda de New Jersey, o que significa que não inventa a roda, mas também não envergonha. Os Real Estate seguem como aquela camisola velhinha que não dá muito estilo, mas aquece sempre. E se os Real Estate não foram especialmente inovativos, que dizer dos Sleaford Mods? Mais um ano, mais um álbum, a fazer jus à média insana de um álbum por ano que mantêm desde 2011. "English Tapas" é novo, mas de novo tem muito pouco. O normal, portanto. Não esperamos propriamente ópera do duo britânico. É apenas o novo capítulo de uma carreira tão "samey" que se pode caracterizar como um único longo e particionado álbum.
Tudo isto e muito mais na clássica Playlist NiT de Março, só com música lançada no último mês.
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