sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Crítica: One Direction - "Made In The A.M." | Música para montagens de fotos

"Made In The A.M." não vai ganhar novos fãs aos One Direction, mas também não vai desapontar os antigos




De quando em vez, ocorre na nossa vida um evento que, sem nos apercebermos, a define para sempre. Um dos eventos que definiu a minha relação com a música deu-se no Natal de 1997, quando o meu tio Jorge ofereceu um cheque-disco (para quem não sabe, um voucher para comprar um CD) a mim e ao meu primo João Pedro. Dias mais tarde, fui com o João à loja de discos de Castelo Branco e ele fez com o cheque-disco o que um miúdo de 12 anos faz: comprou o disco da moda. Enquanto ele levou para casa o álbum "Backstreet's Back" dos Backstreet Boys, eu fiquei intrigado com a capa de um disco sentado na prateleira dos clássicos e trouxe comigo um tal de "A Day At The Races" dos Queen. Mas não fiquei convencido. Como todos os miúdos, também eu queria ser o mais fixe da turma e fui por isso a casa do meu primo ouvir o que tinha perdido. A hora que se seguiu deixou-me para sempre descansado com a minha decisão. Quando a NiT me lançou o desafio de ouvir o novo disco dos One Direction "Made In The A.M.", cruzei-me com o meu passado e foi como se voltasse para aquela hora na casa do meu primo.

Antes de avançar, devo dizer que nada me move contra os rapazes dos One Direction, nem contra as boys-bands em geral (sou fã acérrimo dos Wham!). As boys-bands vêm desde a Motown e nos últimos 50 anos houve umas melhores e outras piores. Mas qualquer coisa se passou em meados da década de 90 e as boys-bands deixaram de ser formadas por músicos com boa imagem, para passarem a ser um conjunto de miúdos com boa imagem que sabem dançar e, nalguns casos, também sabem cantar. A palavra-chave "músicos" foi à vida. Os One Direction inserem-se nesta nova fase: são fulanos a cantar e dançar música composta por sicranos e interpretada por beltranos. Eles são o que são e não pretendem ser mais que isso mesmo, esse não é o meu problema com eles. O meu problema com eles é mesmo a música.

O novo álbum "Made In The A.M." nem começa mal: "Hey Angel" é um tema catchy que quase não sofre do síndrome da Pop ultra-processada que agora infecta as estações de rádio. É um indicador positivo, mas imediatamente negado quando chegam "Drag Me Down" e "Perfect", os singles de promoção do álbum. Se é para a rádio, tem que ser igual a tudo o que lá passa, pois claro. Mas o pior chega em "End Of The Day", um tema que é tão genérico, tão medíocre, tão igual-a-tudo, tão cruzado entre Coldplays, Aviciis, Mumfords e outros Sons, que é doloroso chegar ao fim. Mas calma Nuno, que ainda só estamos na quinta faixa.

"If I Could Fly" vem a seguir e é uma balada ao piano, com violinos no clímax. Genérico? Claro, mas nada de ofensivo. Menos quando corrigem o tom do voz com o autotune. Eles no mínimo deveriam saber cantar, não é? "Long Way Down" é mais uma balada, esta ao estilo de "Drops of Jupiter" dos Train. "Never Enough" é S Club 7 com refrão Muse. "Walking In The Wind" é Jack Johnson e Sheppard no sunset de Tróia. E assim se sucedem as genericidades, tema a tema, até ao fim do álbum. "Made In The A.M." não vai ganhar novos fãs aos One Direction, mas também não vai desapontar os antigos. É Pop ultra-polida, destinada às bandas sonoras de montagens de fotos em férias para publicar no Facebook. Não é mau, não é ofensivo, é só desesperadamente genérico; mas serve bem o seu propósito. Tudo plástico, tudo pela rama, profundidade inexistente. Eis mais um álbum dos One Direction.

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