"Welcome to what's apparently the saucer of my secrets. Or my saucers and my secrets, I don't know. The band was unsure of what to call ourselves, we thought about Australian Roger Waters but decided at last minute to change it.
I'm not quite sure if this one is better."
Nick Mason, ao apresentar os Nick Mason's Saucerful Of Secrets no Half Moon, em Londres
Há um nítido sentimento de libertação nesta noite do inesperado regresso de Nick Mason aos palcos. Tenho o privilégio de estar aqui, no Half Moon, um pequeno e claustrofóbico bar em Putney que aparenta levar não mais que 50 pessoas, para esta inusitada ocasião. Olho à volta e lembro-me que foi precisamente para isto que eu me mudei para Londres. O ambiente fervia e todos comentavam entredentes: seria Nick capaz de dar conta do recado? Feitas as contas, ele já não tocava sozinho em palco desde a digressão de "Animals" em 1977, já lá iam mais de 40 anos. Toda a gente levava grande curiosidade, mas a verdade é que ninguém esperava grande coisa.
Desde que Nick Mason começou a ter ajuda nas suas partes de bateria em 1980, na The Wall Tour, que se estabeleceu a ideia generalizada que Nick é um baterista tecnicamente pouco hábil. Houve até alguma surpresa quando ele fez questão de aparecer sozinho no Live 8, em 2005, na famosa reunião dos Floyd. Acontece que já aí o Nick nos estava a tentar dizer alguma coisa.
E disse mais nos últimos anos, quando foi várias vezes convidado por David Gilmour para aparecer nos seus shows a solo e recusou repetidamente. Mason cansou-se de ser tratado como um napron de mesa e deu a saber a David que não estava mais disponível para enfeite, estava apenas e só disponível para os PINK FLOYD. Até porque depois da morte de Richard Wright e da saída de Roger Waters em 1985, Nick + David = Pink Floyd.
Mas David nunca o chamou para os Pink Floyd.
E por isso, farto de ser refém da vontade de Roger e David para poder sair de casa e fazer o que gosta, Nick (que é, note-se, o único músico presente em TODOS os álbuns dos Floyd) resolveu pôr mãos à obra, formar uma banda e provar a todos o quanto estávamos errados sobre a sua aptidão para a bateria.
E eis que chegamos aqui, ao Half Moon, um bar tão recôndito que mais parece um regresso aos longínquos tempos do UFO. É a noite de libertação de Nick Mason e dos seus Saucerful Of Secrets, o supergrupo menos super da História. O centro do palco é tomado por Guy Pratt, carismático baixista de estrada dos Pink Floyd e de David Gilmour desde 1987 (e genro de Richard Wright); nos flancos temos as guitarras de Gary Kemp dos Spandau Ballet (que agora vivem sem Tony Hadley) e de Lee Harris, guitarrista e manager dos The Blockheads pós-Ian Dury (no Técnico chamavam a isto de segunda derivada). Lá atrás, nas teclas, o produtor e mago de estúdio Dom Beken e lá muito ao fundo, demasiado ao fundo para quem é o cabeça de cartaz da noite e o homem que todos vieram ver, Nick Mason — esse mesmo, o baterista proscrito, alegadamente inábil e supostamente reformado dos Pink Floyd. É a noite de redenção deste suspeito grupo de músicos renegados, órfãos de banda e ratos de estúdio que, quais Rocky contra Apollo Creed, tiveram finalmente o seu shot at the title. E boy se o aproveitaram.
No passado presos à marca dos Pink Floyd, hoje Nick Mason e Guy Pratt foram livres e tocaram a música que conheciam e amavam fora das amarras dos líderes da banda, das telas gigantes e dos porcos a voar. O foco foi a música e exclusivamente o reportório que os Floyd fizeram antes do game-changer "The Dark Side Of The Moon", normalmente e infelizmente esquecido. Em suma, um sonho para qualquer fã dos Floyd. Ora atentem na insana setlist da noite:
A noite foi de glória total. Nick esteve imaculado e provou ser mil vezes o baterista que todos pensavam que ele era. Eu incluído. Impressionante a forma como o velhote varreu o dificílimo crescendo de "Set The Controls For The Heart Of The Sun". Um misto de felicidade e perpelexidade encheu a sala, como se de um sucesso de um velho amigo se tratasse.
Notava-se o nervoso miudinho no palco, mas salvo alguns excessos do teclista e algumas insuficiências nas guitarras (deuses há muitos, mas David Gilmour só há um), a banda esteve no ponto. Curiosamente, as grandes gafes da noite vieram dos membros com maior experiência de palco, com Guy Pratt a não acertar o baixo no crescendo de "A Saucerful Of Secrets" e Gary Kemp a esquecer-se de chegar ao microfone para cantar por diversas vezes, tal era a concentração no seu instrumento. A grande revelação foi Lee Harris, que se encarregou de levantar os pesos mais pesados de David e deu show no solo de "One Of These Days". Só tive pena que Nick não tivesse "cantado" ao vivo a sua famosa linha "one of these days I'm gonna cut you into little pieces".
Saí do Half Moon de coração cheio e com o bónus de levar a setlist do palco na mão. Pensava que a noite não poderia ter corrido melhor. Até que olho para o lado e vejo o homem da noite, ele mesmo, Nick Mason. Depois de andar um dia atrás do Roger para um autógrafo sem sucesso, apanho o Nick assim, casualmente, à saída de um bar. E nisto lembrei-me do que dizia o John Lennon no seu tema "Beautiful Boy": a vida é o que acontece quando estamos ocupados a fazer outros planos. Nem mais.
Desde que Nick Mason começou a ter ajuda nas suas partes de bateria em 1980, na The Wall Tour, que se estabeleceu a ideia generalizada que Nick é um baterista tecnicamente pouco hábil. Houve até alguma surpresa quando ele fez questão de aparecer sozinho no Live 8, em 2005, na famosa reunião dos Floyd. Acontece que já aí o Nick nos estava a tentar dizer alguma coisa.
E disse mais nos últimos anos, quando foi várias vezes convidado por David Gilmour para aparecer nos seus shows a solo e recusou repetidamente. Mason cansou-se de ser tratado como um napron de mesa e deu a saber a David que não estava mais disponível para enfeite, estava apenas e só disponível para os PINK FLOYD. Até porque depois da morte de Richard Wright e da saída de Roger Waters em 1985, Nick + David = Pink Floyd.
Mas David nunca o chamou para os Pink Floyd.
E por isso, farto de ser refém da vontade de Roger e David para poder sair de casa e fazer o que gosta, Nick (que é, note-se, o único músico presente em TODOS os álbuns dos Floyd) resolveu pôr mãos à obra, formar uma banda e provar a todos o quanto estávamos errados sobre a sua aptidão para a bateria.
E eis que chegamos aqui, ao Half Moon, um bar tão recôndito que mais parece um regresso aos longínquos tempos do UFO. É a noite de libertação de Nick Mason e dos seus Saucerful Of Secrets, o supergrupo menos super da História. O centro do palco é tomado por Guy Pratt, carismático baixista de estrada dos Pink Floyd e de David Gilmour desde 1987 (e genro de Richard Wright); nos flancos temos as guitarras de Gary Kemp dos Spandau Ballet (que agora vivem sem Tony Hadley) e de Lee Harris, guitarrista e manager dos The Blockheads pós-Ian Dury (no Técnico chamavam a isto de segunda derivada). Lá atrás, nas teclas, o produtor e mago de estúdio Dom Beken e lá muito ao fundo, demasiado ao fundo para quem é o cabeça de cartaz da noite e o homem que todos vieram ver, Nick Mason — esse mesmo, o baterista proscrito, alegadamente inábil e supostamente reformado dos Pink Floyd. É a noite de redenção deste suspeito grupo de músicos renegados, órfãos de banda e ratos de estúdio que, quais Rocky contra Apollo Creed, tiveram finalmente o seu shot at the title. E boy se o aproveitaram.
""The Nile Song" was actually the first Pink Floyd song I learned how to play when I was a kid. When I was with David, rehearsing for his On An Island tour in 2006, we were suggesting songs and I suggested to play this. And then David suggested that I should play in another band! And so I did!"
Guy Pratt, na introdução de "The Nile Song", tema nunca tocado pelos Pink Floyd
No passado presos à marca dos Pink Floyd, hoje Nick Mason e Guy Pratt foram livres e tocaram a música que conheciam e amavam fora das amarras dos líderes da banda, das telas gigantes e dos porcos a voar. O foco foi a música e exclusivamente o reportório que os Floyd fizeram antes do game-changer "The Dark Side Of The Moon", normalmente e infelizmente esquecido. Em suma, um sonho para qualquer fã dos Floyd. Ora atentem na insana setlist da noite:
A noite foi de glória total. Nick esteve imaculado e provou ser mil vezes o baterista que todos pensavam que ele era. Eu incluído. Impressionante a forma como o velhote varreu o dificílimo crescendo de "Set The Controls For The Heart Of The Sun". Um misto de felicidade e perpelexidade encheu a sala, como se de um sucesso de um velho amigo se tratasse.
Notava-se o nervoso miudinho no palco, mas salvo alguns excessos do teclista e algumas insuficiências nas guitarras (deuses há muitos, mas David Gilmour só há um), a banda esteve no ponto. Curiosamente, as grandes gafes da noite vieram dos membros com maior experiência de palco, com Guy Pratt a não acertar o baixo no crescendo de "A Saucerful Of Secrets" e Gary Kemp a esquecer-se de chegar ao microfone para cantar por diversas vezes, tal era a concentração no seu instrumento. A grande revelação foi Lee Harris, que se encarregou de levantar os pesos mais pesados de David e deu show no solo de "One Of These Days". Só tive pena que Nick não tivesse "cantado" ao vivo a sua famosa linha "one of these days I'm gonna cut you into little pieces".
Nick Mason era o Floyd que me faltava ver ao vivo e nunca pensei que tal se concretizasse nestes moldes. A minha vénia àquele que daqui para a frente terá que ser reconhecido como um fantástico baterista. Poucos dias depois de ter ver o Roger no Atlântico, é o culminar de uma semana maravilhosa para ser um fã dos Pink Floyd.