Já todos terão ouvido que vem aí um álbum novo dos U2. O que há uns anos era motivo de festejo e expectativa generalizada, hoje é olhado com um bocejo ou, pior ainda, com total indiferença. "Songs Of Experience" tem lançamento marcado para dia 1 de Dezembro, mas a julgar pela primeira amostra, não há muitas razões para entusiasmo.
"You’re The Best Thing About Me" tenta somar uma série de clichés dos U2 a um tema banal e desprovido de qualquer edge (pun intended), cujo único objectivo parece ser soar igual a tudo o que ouvimos nas rádios generalistas. É uma canção aguada que tenta ser uma série de coisas ao mesmo tempo e não consegue ser nenhuma; que quer encaixar perfeitamente na paisagem como um caçador furtivo e assim tentar devolver aos U2 uma relevância que lhes escapa há décadas. Este é um processo pelo qual já vimos os Coldplay passar há 10 anos (ler aqui sobre esse flagelo), mas não é assim que o quarteto irlandês lá vai.
Em vez disso, soaram os alarmes financeiros e a banda percebeu que para manter o nível de sucesso e de receitas, tinha que voltar a soar a algo que o público reconhecesse imediatamente na rádio – a sonoridade dos U2, cuja impressão digital remonta a "The Electric Co.". E foi aí que os U2 se tornaram numa banda de auto-revivalismo. "All That You Can't Leave Behind" seguiu-se em 2000 e restaurou aos U2 o título de "Maior banda Rock do mundo" (e mais bem sucedida financeiramente) durante mais alguns anos. Este poderia ter sido apenas um álbum de regresso às raízes, um throwback antes de voltar a olhar para o futuro. Mas não.
A banda seguiu o mesmo rasto de regresso ao passado em "How To Dismantle An Atomic Bomb" que, apesar do título bombástico, se revelou completamente inofensivo. Manteve-se o sucesso, sim, mas à custa da crescente banalização do produto da banda. Os U2 inauguraram aqui uma nova fase da banda: os U2 em auto-piloto.
U2 em auto-piloto é um conceito que tentar somar múltiplos clichés da banda à sua música (quantos mais, melhor), de forma a que ela seja sucessivamente mais reconhecível e, claro está, comercial. Note-se que este não é um conceito nefasto em si mesmo. O pior é quando ele é aplicado a temas banais e desinspirados, produzindo resultados pouco acima do medíocre.
Para o álbum seguinte, os U2 tentaram – com sucesso – inverter esta tendência. A banda voltou à experimentação em (metade de) "No Line On the Horizon" em 2009. Pela primeira vez em mais de 10 anos, os U2 voltaram a correr riscos e a esticar as fronteiras da sua sonoridade, naquele que foi o álbum mais ambicioso desde "Pop". Mesmo sem escapar a uma mediocridade latente a partir do quarto tema do álbum, o início de "No Line" bateu forte com o tema-título, o belíssimo single "Magnificent" e o épico "Moment Of Surrender" – um dos mais intensos temas dos U2 de todo o sempre. A digressão 360º (que passou em Coimbra para dois concertos superlativos e muito molhados) também foi um sucesso global e devolveu aos U2 aquele edge que lhes escapava há uma década. O pior veio depois.
Pior ainda que todo o backlash gerado pela estratégia de lançamento de "Songs Of Innocence", só mesmo o conteúdo do álbum. Se pelo menos fosse alguma coisa que se aproveitasse, com certeza que as pessoas não se queixariam tanto em ter música de borla na sua conta. O álbum mandou à fava a experimentação em toda a linha (excepção talvez a "Sleep Like A Baby Tonight") e limitou-se a somar clichés, numa hipérbole de U2 em auto-piloto sem qualquer história para contar. Salvou-se o belo single "Every Breaking Wave", "California" e pouco mais. O desinteresse reflectiu-se nas vendas (abaixo ainda de "Pop") e eu pensei que, tal como na ressaca deste, os alarmes voltassem a soar no campo dos U2. Mas não.
"You’re The Best Thing About Me" chegou e volta a mostrar a mesma lástima de clichés sem conteúdo que pejaram "Songs Of Innocence". Nunca os U2 soaram tão beige. Para um fã como eu, esta banalização dos U2 começa a tornar-se exasperante. Talvez o problema seja meu e esta seja apenas uma questão de gestão de expectativas. Fui habituado a esperar grandes feitos dos U2. Fui habituado a uma banda sempre a tentar novas coisas, sempre a esticar os limites da sua sonoridade. A mesma sonoridade que rasgou fronteiras nos anos 90 e que agora parece estar confinada a um quadrado. Talvez tenha sido mal habituado e agora tenha que me convencer que a banda é uma força esgotada, beige e inofensiva.
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