segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Os melhores de sempre... do mês de Fevereiro (de 2017)

Declaro Fevereiro como o mês da segunda vinda do Shoegaze
Um dia George Michael disse ao manager de Prince (na altura também o seu) que "o problema do Prince é que ele não se sabe editar". Tendo em conta que a minha lista do mês de Janeiro teve 15 temas e em Fevereiro, com 3 dias a menos, já levo 20 canções, temo padecer do mesmo problema que Prince. Mais música para vocês ouvirem.

Arrancamos a playlist de Fevereiro com um veterano que nos traz a grande malha do mês. Falo de Mark Lanegan (Queens Of The Stone Age, Mad Season e uma porradona de bandas e colaborações de nomeada) e "Nocturne", que marca o regresso do rocker de Seattle aos discos a solo. Curiosidade: a minha primeira review na NiT foi do álbum anterior de Lanegan — "Phantom Radio" —, em 2014. O tempo não pára e aqui estamos à espera do volume seguinte.

Seguimos com mais um comeback — este mais longínquo — dos Echobelly, que se preparam para lançar "Anarchy And Alchemy", o primeiro álbum desde 2004. Será interessante perceber se o resto do novo material da banda que conheceu sucesso nos mid-90s faz jus à primeira amostra. "Alchemy is your gift to me". Malha.

Por falar em regressos, 2017 tem sido o ano da "second coming" do Shoegaze. Depois da desintegração dos Oasis e respectiva réplica Beady Eye, Andy Bell ficou livre para se juntar à sua banda de sempre e maior pioneira do Shoegaze: os Ride. Eles estão de volta aos estúdios e os primeiros resultados já chegaram, sendo que a avaliar por "Home Is A Feeling", não há que enganar: temos assunto. Melhor ainda é o regresso dos Slowdive com este astronómico "Star Roving", uma das grande malhas do ano. E sim, eu sei que é de Janeiro, mas não apareceu na playlist do mês passado e não os podia deixar passar em claro.
Fechamos a sequência Shoegazista com os bem mais recentes Takashi Miyaki, um trio misterioso de Los Angeles que em tempos foi chamado de "Jesus And Mary Chain femininos" e tem um novo tema — "Girls On TV" — cujo vídeo foi realizado por James Franco (esse mesmo). A ter em atenção.
E por falar em The Jesus And Mary Chain, eles também têm tema novo — "Always Sad" — do novo álbum "Damage And Joy" que chega em Março, o primeiro desde 1998. Parece mentira, mas já lá vão quase 20 anos desde o último álbum do grupos escocês.

A próxima secção da playlist de Fevereiro leva-nos a terrenos menos sombrios. Primeiro com os Spoon, que continuam a mostrar o novo álbum aos poucos e aqui nos trazem uma pitada de Funk marroquino. Soa estranho? Pois soa. Mas em bom.
Por terrenos mais familiares viajam os Future Islands. "Ran" é o primeiro aperitivo do sucessor do superlativo "Singles" e é uma continuação directa, que é o mesmo que dizer que soa exactamente ao mesmo que ouvimos no álbum anterior.
Também a mostrar o seu novo álbum aos poucos está Father John Misty, que deixou mais uma do seu novo "Pure Comedy". Desta vez é a balada ao piano "Ballad Of The Dying Man", a melhor que já ouvi do novo álbum.

O álbum do mês é "Prisoner" de Ryan Adams, de onde foi retirado este superlativo "Breakdown". Este têm mesmo que ouvir.
Também damos um salto sanjuniperiano aos anos 80, com novas dos The Pretenders (com voz de Neil Tennant dos Pet Shop Boys!) e dos Depeche Mode (a darem na política).
Como de costume, fechamos a playlist com um som ambiente, desta feita a cargo dos Minor Victories. Ouçam tudo aqui:



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Ryan Adams - "Prisoner" (Review)

Mesmo a tempo da ressaca do Dia dos Namorados, o músico norte-americano lança um álbum sobre corações partidos, o primeiro desde "1989" - disco de covers de Taylor Swift - lançado em 2015. E é de audição obrigatória.

Quando fiz uma roadtrip costa-a-costa pelos EUA em 2011, planeei passagens por todos os locais-chave: NY, Chicago, Las Vegas, LA... Todos os clássicos. De todo o trajecto, do que é que eu gostei mais? Dos desvios. A minha viagem não vos interessa para nada, mas serve para explicar a discografia recente de Ryan Adams.

Ryan Adams deixou-nos a coçar a cabeça quando decidiu, também ele, fazer um desvio à sua carreira em 2015 e lançar um álbum de covers de Taylor Swift. O que quereria ele com aquilo? Ridicularizar Swift? Provar que consegue transformar água em vinho? Não e não. A versão de "1989" foi um triunfo tanto para ele como para Taylor Swift e quanto muito, foi o maior elogio que Taylor poderia receber ao seu talento como compositora. Mas e Ryan, o que sobrou para ele no meio disto tudo? Um desvio tão fora da estrada como "1989" teria que obrigar o seu GPS a recalcular o trajecto da sua discografia.

De certa forma, "Prisoner" é apenas uma continuação do caminho trilhado por Ryan Adams na sua versão de "1989". Faz todo o sentido, ou não tivesse o primeiro sido escrito enquanto o segundo era gravado. Confusos? Passo a explicar. As canções de "Prisoner" foram escritas na ressaca do divórcio de Ryan Adams com a actriz Mandy Moore. Na altura, em vez de se enclausurar para escrever e gravar esses temas, Ryan preferiu lidar com a separação através da desconstrução de "1989" que, tal como toda a música que Ryan escrevia na época, também é sobre amor perdido e corações partidos. Temas como "Breakdown" e "Haunted House" poderiam perfeitamente figurar no álbum de covers. Mas nem só de Taylor Swift vive "Prisoner", ou não fosse Ryan Adams o homem que tão depressa faz covers de "Wonderwall" como de "Shake It Off".

Nas faixas que conhecíamos de "Prisoner", Ryan Adams já havia canalizado influências de Hair Metal e AOR em "Do You Still Love Me?", da vertente mais Folk da Pop americana em "To Be Without You" e até de early Eagles em "Doomsday". No que faltava ouvir do álbum, Ryan alastra as suas influências a todo o espectro do Rock radiofónico americano dos anos 80. Os casos são inúmeros e as semelhanças são demasiado óbvias para passarem despercebidas.

"Shiver and Shake", por exemplo, decalca de tal forma a atmosfera de "I'm On Fire" de Bruce Springsteen, que o meu ouvido (tão treinado a Bruce) passa os 3 minutos à espera da entrada do Boss. Não entra Bruce, mas chega mais à frente, em "Tightrope", um solo de saxofone tenor tirado a papel químico do "seu" Clarence Clemons. É esta uma das valências de Ryan Adams: em vez de ostensivamente plagiar os seus heróis, Ryan emula o ambiente das suas músicas preferidas e cria um original que soa exactamente igual à sua referência.

O caso mais curioso aparece em "Anything I Say To You Now", mais especificamente naqueles acordes em eco no início do tema, que são uma imagem de marca de um artista com o nome muito parecido com Ryan Adams. Avinhem de quem estou a falar. Exactamente, Bryan Adams. A parte curiosa disto é que Ryan é perseguido pelo fantasma de Bryan nos seus concertos, desde que em 2002 um heckler o fez perder a paciência em Nashville quando gritou por "Summer Of '69". Foram anos de terapia em psicólogos, como o próprio Ryan contou ao New York Times, até que voltou à mesma venue em 2015 e tocou... "Summer Of '69". Este episódio resume muito bem o propósito de "Prisoner" - um álbum onde Ryan lida com os seus fantasmas.

"Prisoner" é um álbum pejado de canções de amor (e falta dele), obrigatório para quem vive as canções Pop como o Tom do "500 Days Of Summer"; é um dos melhores discos que (até ver) 2017 nos trouxe. Comparando com o output anterior de Ryan Adams, "Prisoner" é mais variado que "1989" e por isso também uma audição mais completa e satisfatória. Pena que as canções de Taylor Swift sejam, na globalidade, superiores. Mas a vida é assim mesmo, às vezes é nos desvios que encontramos o melhor da viagem.

81%

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

As 20 melhores baladas de sempre

Queria escolher as 10 melhores baladas de sempre para o Valentines, mas não me consegui conter e as 10 passaram a 20. No final, acabaram por ficar 21.
Canções de amor, quem as não tem? Desde a primeira namoradinha na escola, até às complicadas relações dos crescidos, são estas as canções que servem de banda sonora aos nossos amores e desamores. Para celebrar o Dia dos Namorados, comecei por tentar reunir as minhas 10 baladas preferidas numa playlist, mas o lote avolumou-se e à dificuldade de edição, o Top 10 passou a Top 20 (ou 21). Leiam, amem e ouçam a playlist no fim.



20. Blur – "Tender" (1999)
Começamos com a canção de amor que diz o mais importante que precisamos saber: "Love is the greatest thing that we have". E é isto, o amor é mesmo o melhor que temos.









19. Queen – "Too Much Love Will Kill You" (1994)
A canção de amor que conta o resto da história: o amor é o melhor que temos, mas como todas as drogas, servido em demasia, mata.
Somos as vítimas dos nossos próprios crimes.









18. Ornatos Violeta – "Ouvi Dizer" (1999)
"Ouvi dizer" que amor é uma doença, quando nele julgamos ver a nossa cura...










17. Elvis Presley – "Can't Help Falling In Love" (1961)
... e mesmo assim, não conseguimos parar de ficar caidinhos de amor.










16. Julio Iglesias  "Hey!" (1980)
Impossível deixar de fora de uma lista de baladas o maior baladeiro latino (tanto na Europa, como na América Latina). Talvez os leitores abaixo dos 30 não tenham noção da magnitude do antigo guarda-redes do Real Madrid na música, mas só este álbum - "Hey!" - vendeu mais de 20 milhões de cópias e estima-se que as vendas totais do Julito só em álbuns rondem as 300 milhões de unidades. Acima disto, só Beatles, Michael Jackson e pouco mais.
Julio Iglesias, o homem que promete devolver o dinheiro dos bilhetes do seu espectáculo se os casais não fizerem amor de pé nessa noite. O maior.


15. Laura Pausini –  "La Solitudine" (1993)
Por falar em grandes baladas latinas (e eu tenho a perfeita noção que estou aqui a arriscar a vossa atenção), não posso olvidar a história da menina Laura que fica sem o seu namoradinho Marco que "se n'è andato e non ritorna più" e assim deixou a Laurinha sozinha entre os TPC de Inglês e Matemática. E eu não posso olvidar porque esta canção de amor para os mais pequenos foi também a banda sonora do meu primeiro amor, tinha eu 8 aninhos. Ai, a inocência.




14. Rui Veloso – "A Ilha" (1984)
Passando para amores mais adultos, Rui Veloso leva-nos ao mar com lua cheia, "a esse mar de ruas e cafés". N' "A Ilha", a inocência já foi atirada ao convés há muito e Rui prefere aludir a metáforas dos Descobrimentos para descrever essa navegação no desconhecido que é a relação com a mulher. Um tema sombrio e criminosamente negligenciado no reportório de Rui Veloso.







13. 10CC – "I'm Not In Love" (1975)

"Etéreo" e "celestial" são adjectivos demasiadas vezes atirados na música, nem sempre de forma legítima. Quando a Siri começar a responder com exemplos às nossas dúvidas de semântica, à pergunta "o que significa 'etéreo'", ela deverá responder com a faixa instrumental de "I'm Not In Love" dos 10CC.
A balada do amor em negação, para todos os que vão espiar o Facebook dos exs de hora em hora, mas que garantem que já não sentem nada.







12. Phil Collins – "How Can You Just Sit There? (Against All Odds)" (1981)
Nem sempre são precisas palavras para ficar tudo dito. Há um niilismo em "How Can You Just Sit There?" que se auto-completa e auto-explica, porque é do vazio que o tema trata. Não é preciso ouvir Phil Collins dizer que "there's just an empty space" porque é exactamente isso que se sente nesta gravação.
"How Can You Just Sit There?" é a versão arcaica de "Against All Odds" e foi firmada nas sessões de gravação de "Face Value" – o primeiro álbum a solo de Phil Collins. Como todas as suas composições da altura, foi escrita sobre o seu divórcio, quando Phil foi abandonado pela mulher e se viu sozinho, na fria e distante Vancouver, para lá dos bosques de Twin Peaks.

11. Duran Duran – "Save A Prayer" (1982)
Isto do amor também não é só miséria. "Save A Prayer" é uma balada para o amor combustível, despegado e fugaz, aquele que se vive numa noite de Verão em Saint-Tropez e ali fica para sempre, numa praia isolada da Riviera Francesa. Mas acho que já estou a ser demasiado específico.
"Save A Prayer" é uma das melhores baladas dos anos 80 e ascende a níveis estratosféricos quando a guitarra suja e angulosa de Andy Taylor rasga as texturas de Nick Rhodes e John Taylor, enquanto Simon Le Bon sustenta o "save it to the morning afteeeeeeeeeer", por volta dos 2:20.
"Some people call it a one-night-stand but we can call it paradise". Quem disse que o chavascal não pode ser romântico?


10. Pavement – "Spit On A Stranger" (1999)
Porque nem sempre os amores se podem resumir a um one-night-stand. Não foi ao acaso que "Spit On A Stranger" foi a canção escolhida para juntar Ted e Victoria no fim do empolgante episódio de "How I Met Your Mother" em que Ted tenta descobrir quem era a miúda perfeita que conhecera num casamento.
Uma canção de amor para os desencontrados tempos modernos: "Honey I'm a prize and you're a catch and we're a perfect match". Como dois estranhos amargurados.




9. Eagles – "I Can't Tell You Why" (1979)
Foi a banda sonora da primeira paixão que eu tive por uma miúda que não era da minha turma. Amores proibidos, quem nunca?










8. Jacques Brel – "Ne Me Quittes Pas" (1954)
Não me deixes, não me deixes, não me deixes... Se à quarta vez que Jacques Brel suspira "ne me quittes pas" lavado em lágrimas nesta performance (https://www.youtube.com/watch?v=q_bq5mStroM), a música não vos partir o coração, deviam ir ver isso a um cardiologista. Só espero que a miúda não tenha deixado o pobre Jacques.





7. The Beatles – "Here, There And Everywhere" (1966)
Uma lista de baladas não pode existir sem o maior baladeiro que o mundo já viu – Sir Paul McCartney. Se fosse eu a escolher, tinha-vos deixado com um tema do Paul a solo: "Monkberry Moon Delight" (que não parece uma canção de amor, mas é a amálgama metafórica perfeita da frivolidade de tudo na vida para além do amor), "Junk" (a melhor canção de amor sobre objectos) ou até o mais óbvio "Silly Love Songs"; mas como é Valentines, escolho esta porque é a preferida da minha namorada. E da Phoebe dos Friends, também.




6. The Beach Boys – "God Only Knows" (1966)
Não será preciso dissertar sobre a magnificência de "Pet Sounds". A literatura é extensa e se tiverem dúvidas, vejam o filme "Love And Mercy". Para lá do arsenal de instrumentos e harmonias que ouvimos no álbum, aquilo que mais me atrai em "God Only Knows" é a sua pureza feliz, ingénua e despreocupada, que nos faz acreditar que o amor da vida real pode ser tão fácil como o final de "Love Actually" (https://www.youtube.com/watch?v=_Dqnbi_IhXc). Se tudo fosse sempre assim tão simples.




5. David Bowie – ""Heroes"" (1976)
"The greatest love song of all time", diz a minha namorada. Ela é portuguesa, mas o nosso amor é global e por isso comunicamos em inglês from time to time.
(Nota: devem ter reparado nas duplas aspas, que indicam que o título original já leva um par de aspas e por isso a sua citação leva outro par. Não é romântico?)


4. Guns N' Roses – "November Rain" (1991)
Porque é verdade que é difícil manter as velas acesas debaixo da chuva de Novembro. "Novemeber Rain" é uma canção de amor sobre as tormentas das relações dos crescidos e a constante luta para as salvar.
Porque a melhor maneira de contar uma história de amor é com o Slash a fazer um solo de guitarra em cima de um piano. 






3. Derek & The Dominos – "Layla" (1970)


Falando em grandes histórias de amor. A lenda conta que Eric Clapton estava tão desesperadamente apaixonado por Pattie Boyd que, num dos encontros secretos que mantinha com a mulher de George Harrison, levou numa mão um leitor de cassetes e na outra um pacotinho de plástico. O leitor tinha uma cassete com a sua última composição: uma balada sobre um homem perdido de amores por uma miúda que não podia ter - "Layla". Eric tocou a fita e no fim, Pattie estava mortificada: "Todos vão saber que isto é sobre mim", agonizou.
Eric suplicou-lhe que deixasse o seu amigo (ou nem por isso) George e avisou que se não o fizesse, se iria afogar naquilo que tinha na outra mão. Mostrou-lhe o pacote de plástico: era heroína. "Não sejas parvo", disse Pattie; e foi-se embora para os braços de George. Mas Eric Clapton cumpriu com o que prometera e durante 3 anos desapareceu do mapa - não saiu de casa, não atendeu porta nem telefone, nem sequer os amigos lhe puseram a vista em cima. Por amor, apagou-se.
Uma balada para os amores impossíveis.

2. George Michael – "Careless Whisper" (1984)

A balada Pop perfeita. Desde aquela introdução de saxofone inconfundível, a estrutura, a lírica, até ao vídeo. Tudo no sítio certo. George Michael escreveu "Careless Whisper" (alegadamente) com Andrew Ridgeley em 1981, quando tinha apenas 17 anos. Nos anos que se seguiram, George assumiu um distanciamento relativamente ao tema, por considerar que na altura "não sabia nada sobre a vida". Não deixa de ser curioso que esta posição de George seja um gato de Schroedinger que consegue estar ao mesmo tempo totalmente certa e totalmente errada. De facto, aos 17 anos nem George nem ninguém sabe nada sobre a vida, mas é precisamente essa visão ingénua e pura do amor, a mais valiosa na esfera da música Pop e a mais certeira no coração do ouvinte de uma canção. O problema nem é nunca mais dançar; é nunca mais conseguirmos dançar da mesma forma que dançámos com ela. São estas nuances capazes de cristalizar um sentimento universal que definem a Pop genial. Tão simples, mas tão acurado.

1. Queen – "You Take My Breath Away" (1976)

Nesta fase avançada de evolução civilizacional, já deve ser unânime e axiomaticamente aceite que a melhor canção de amor alguma vez escrita é "You Take My Breath Away" dos Queen.
"You Take My Breath Away" é Freddie Mercury em todo o seu esplendor. Com excepção de um (majestoso) solo de guitarra de Brian May lá para o fim, aqui só há Freddie: ao piano e na voz; aliás, Freddie em todas as vozes: agudos, médios e graves, layers e layers de Freddie, é tudo dele. E há o silêncio, elemento fulcral neste tema. Sozinho, Freddie vê-se obrigado a um dueto com o silêncio, amiúde interrompido pela rede de harmonias que mostram um Freddie perdido, atormentado pelas vozes do seu subconsciente. "You Take My Breath Away" é sombrio; é a declaração de amor mais visceral e incondicional, quase ameaçadora; um amor como uma força bruta que lavra tudo à sua passagem e nem o próprio Freddie consegue deter.
Muito se fala em "Bohemian Rhapsody" como a grande obra-prima de Freddie Mercury e em termos de grandeza, é um ponto de vista difícil de refutar. Mas se olharmos atentamente, qual obra-prima de menor porte mas mais polida e refinada, é "You Take My Breath Away" o momento de maior beleza da carreira de Freddie. E por que não, de toda a História da música Pop.



0. The Stone Roses – "Waterfall" (1989)
A música da minha miúda. É especial e por isso não entra no Top 20. Eu sei que ela prefere o "She Bangs The Drums", mas para mim será sempre a minha waterfall.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Os melhores de sempre... do mês de Janeiro (de 2017)

Em Janeiro "está um frio de rachar", dizia o Rui Veloso. Para uns é o mês em que apetece menos sair à rua, para outros (para mim) é o mês em que não é preciso inventar desculpas para não sair à rua e assim ficar trancado em casa a ouvir música. E tanta foi a música que Janeiro de 2017 trouxe. Esta é alguma da melhor.

Comecemos por Ryan Adams. O artista que em 2015 surpreendeu o mundo com o melhor álbum com o nome "1989" de sempre tem um novo trabalho na manga. No fim do ano passado já nos tinha brindado com duas faixas prometedoras : "Do You Still Love Me?" com cheiro a Whitesnake e "To Be Without You" com aroma a Blind Melon. Agora mostrou-nos "Doomsday", que é mais early Eagles. O que têm umas coisas a ver com as outras? Muito pouco. Mas Ryan Adams tão depressa faz covers de "Wonderwall" como de "Shake It Off", por isso sabe-se lá o que vem a seguir.


Logo no dia 1 houve novo álbum de Brian Eno; o que normalmente é o mesmo que dizer que Brian Eno lançou um álbum de música ambiente com duas faixas de 25 minutos, divididas apenas pela comodidade de caberem em dois lados de um vinil. Desta vez, Brian abandonou os facilitismos e lançou um álbum com uma faixa de uma hora. Música de elevador à bruta.


The XX têm um novo álbum, mas se vocês têm um computador com acesso à internet, de certeza que já sabem disso. O álbum é mais variado que os anteriores e mostra a vontade de Jamie XX em fazer coisas novas (que já tinha mostrado no seu bem sucedido álbum a solo). "Replica" é a malha do novo "I See You".


Os Arcade Fire ainda mexem. Depois do exercício de masturbação épico-hipster em "Reflektor", os canadianos entram na política e canalizam o seu melhor Lennon-Yoko com "I Give You Power", uma faixa de matriz inusitadamente simples para os AF. Mudança de direcção ou um one off?



Também tivemos nova dos Spoon. "Hot Thoughts" é a primeira amostra do novo álbum com o mesmo nome e primeiro sinal de vida desde "They Want My Soul" de 2014. Esperemos que este álbum seja menos como "They Want My Soul" e mais como "Transference" de 2010.


Houve também a estreia a solo do baixista dos Tame Impala e antigo baterista dos Pond – Cameron Avery. Curiosamente com uma faixa estranhamente despida para quem é membro das duas bandas de proa do neo-psicadelismo. Violinos em vez de guitarras com distorção.


Por falar em Pond, a banda australiana tem novo álbum para este ano (sem Cameron) e a primeira faixa já aí está. O sintetizador reminiscente da banda sonora de um jogo da NES que abre "30000 Megatons" sinaliza de imediato que já estamos em terreno Dreamy Pop.



Tudo isto e mais a ouvir na playlist de Janeiro.