Quando Led Zeppelin, Pharrell Williams e The Verve vão ao palco do tribunal
Muito pouco se tem passado no mundo da música. Com a queda dos bad boys que entretinham o nosso quotidiano mundano (temos que ser politicamente correctos, não é?) e com a míngua de novas "bandas-marca" que vendem t-shirts e enchem estádios, a indústria sofre e isso reflecte-se tanto na tão falada queda de vendas, como na falta de assunto nas publicações musicais. Têm seguido o feed da NME e da Rolling Stone? Pois. Notícias requentadas e histórias sobre cinema e séries para encher o mural. Se até o Cid foi obrigado a pedir desculpas - e a chorar - por causa de uma brincadeira, numa das cenas mais indecorosas por que já vi passar uma estrela Rock, vai ficar muito difícil a sobrevivência destas publicações.
Não alheio ao assunto da falta de assunto está a nova moda dos processos por plágio. Uma das (poucas) notícias deste Verão foi o processo movido aos Led Zeppelin pelos Spirit, por alegadamente terem copiado a introdução acústica de "Stairway To Heaven" (de 1970), a partir do instrumental "Taurus" de 1968. Os Led Zeppelin abriram para os Spirit na sua primeira digressão americana e isso deixou sempre Randy California (vocalista e guitarrista dos Spirit e autor de "Taurus") com a convicção que Stairway era dele e melindrado por não lhe ter sido dado o crédito, "nem sequer um telefonema de agradecimento". Randy morreu em 1997 e agora foi a família, em posse dos direitos de autor do falecido guitarrista, quem processou à banda britânica.
O julgamento já terminou e absolveu os Led Zeppelin das acusações de plágio. E ainda bem. Ainda bem, porque os Led Zeppelin não copiaram os Spirit? Claro que copiaram! Mas o gamanço faz parte do Rock N' Roll. Que seria do Rock N' Roll sem o "empréstimo" (para lhe dar um nome mais leve) de melodias? Quantas progressões de acordes são possíveis? É um número finito. Quantas vezes as mesmas progressões harmónicas foram repetidas e copiadas? É um número infinito. Porque é que de todos os "empréstimos", foi o "Stairway To Heaven" que foi a tribunal? Porque é aqui que está o dinheiro. Que maneira mais fácil de fazer dinheiro do que mover um processo contra uma mega-banda por causa de uma mega-canção? E é isto.
"Stairway To Heaven" é muito mais que "só" uma canção, é uma marca em si mesma. Na verdade, o historial de "empréstimos" dos Zeppelin é muitíssimo mais vasto e com casos bem mais evidentes que Stairway. Mesmo relativamente a "Stairway To Heaven", outros se poderiam queixar. Dêem uma passagem pelos links para ouvirem alguns casos pelos vossos ouvidos e tirarem as vossa conclusões.
A questão que importa colocar não é se os Zeppelin roubaram ou não esta ou aquela parte de músicas deste ou daquele artista para criarem a sua própria obra. A verdadeira questão é: e depois? Vamos agora limitar a música num sistema finito e fechado, sem lugar à inspiração por parte de terceiros? Já nem vou falar na subjectividade que acarreta tal apreciação. Se toda a gente for processar toda a gente, para além de se abrir um novelo sem fim, acaba-se com a música Rock de vez.
A sentença no caso Led Zeppelin é por isso justa e esperada. Inesperada, foi a sentença no caso de plágio movido a Pharrell Williams pela família de Marvin Gaye por causa de "Blurred Lines", onde Pharrell foi considerado culpado e obrigado a pagar milhões aos filhos de Marvin. Integridade artística? O tanas. Tal como no caso dos Zeppelin, foi a família - e não o próprio artista - a mover o processo. E porquê? Dinheiro, claro está. Muito. É que "Blurred Lines" foi "só" a canção mais tocada de 2013, tornando-se um dos singles mais vendidos de sempre, com quase 15 milhões de cópias. O problema é que este caso abriu um precedente gravíssimo, que felizmente não foi respeitado no julgamento "Stairway To Heaven".
Outro precedente já aberto foi o vergonhoso processo dos Rolling Stones contra os The Verve nos anos 90, devido a "Bitter Sweet Symphony". Tudo por causa de um sample de uma versão de "The Last Time" cuja utilização, imagine-se, eles próprios tinham autorizado, pese embora o arranjo tenha sido escrito por outro músico. Quando Symphony se tornou um fenómeno de popularidade em todo o mundo durante 1997 e 1998, a editora dos Stones mudou de ideias e achou que Richard Ashcroft havia, afinal, "abusado" no uso do sample que, ironicamente, nem sequer faz parte da versão original de "The Last Time". A editora processou-o pelos créditos do tema e ganhou. Todo o dinheiro ganho com "Bitter Sweet Symphony", retroactivos incluídos, vai agora para as contas dos Stones. Como se todo o dinheiro do mundo não fosse já suficiente para Mick e Keith. Pura ganância.
Quem não se lembra do "Anzol" dos Rádio Macau e da sua inusitada semelhança com "Just Like Heaven" dos The Cure, lançada uns meses antes? (offtopic: o quão badass é a Xana neste vídeo e 1988?) Estão a ver o Robert Smith a processar o Flak pelos direitos do "Anzol" e respectivos lucros das vendas dos Rádio Macau? Pois.
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