terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Rei de Hollywood – Adeus, Glenn Frey

Take it easy, Glenn.


Não está fácil, 2016. Tínhamos tantos planos, mas começamos esta relação só com desgostos: na semana passada foi o David Bowie, ontem o Glenn Frey. Para o ouvinte mais distraído, o nome de Frey pode não soar tão familiar como o de Bowie; mas se eu falar na banda que Glenn formou com Don Henley em Hollywood, no início dos anos 70, todos reconhecerão os Eagles. Para mim, falar nos Eagles é falar em música que serviu de banda sonora cinemática a diferentes tempos, eventos e paisagens na minha vida.

Primeiro, entraram os êxitos. Entraram por meio de uma cassete com o inevitável "Best Of" que rodava incessantemente, qual martelo pneumático, no auto-rádio-auto-reverse do Lancia Dedra branco do meu Pai. Foi com o Country-Rock dos Eagles que eu percebi o conceito de "música de estrada". "Hotel California", "New Kid In Town" e "Take It Easy" pintaram paisagens e histórias dramáticas no imaginário de um miúdo sentado no banco de trás, que pouco percebia de inglês, mas que não precisava disso para interiorizar tais canções de fulgor imediato.

Depois entraram os Eagles selvagens e perigosos. Entraram muito mais tarde, quando emigrei para a Polónia durante 3 meses e os californianos foram a banda sonora da minha aventura. A música de Glenn Frey e Don Henley falava sobre Hollywood e os sonhos ingénuos pré-adultos (lembram-se?) da busca pelo sucesso, da conquista do mundo e mais além; sobre foras-da-lei irresistíveis, em viagens perigosas pelo faroeste desconhecido; sobre paixões tão fortes como bulldozers que destroem as vidas e os sonhos de todos à sua passagem. Era a música que descrevia o estado de espírito de um jovem latino a morar no sul da Polónia, com o depósito cheio de testosterona e ingenuidade e uma tábua rasa de experiência. Com os mp3 dos Eagles nos fones do novinho Creative (lembram-se?), eu era o "King Of Hollywood".

Depois voltei à realidade e entrou o resto da discografia. Descobri a ressaca e a perda do fascínio na música dos Eagles, à medida que iam caindo as minhas próprias ilusões. O que nunca caiu, foi a música da banda. Desde a cassete do meu Pai, 20 anos passaram e a mesma compilação, agora em CD, continua a passar incessantemente, agora no meu carro. Passa sempre que vejo um pôr-do-sol numa montanha lá ao fundo e me recordo das paisagens que a música pintou no imaginário do puto sentado no banco de trás do Lancia Dedra. Paisagens pintadas pelas música dos Eagles e as vozes de Don Henley e Glenn Frey.

Glenn Frey foi de Detroit para Los Angeles com um sonho e perseguiu-o ferozmente. Com Don Henley, formou uma das bandas mais velozes e vorazes dos EUA nos anos 70 (se quiserem saber mais sobre isso, leiam aqui e aqui) e a música dos Eagles não é mais do que a descrição de episódios na perseguição furiosa desse sonho. Glenn Frey viveu o sonho e tornou-se num dos reis de Hollywood.
Take it easy, Glenn (https://www.facebook.com/nuno.mm.bento/videos/1136032313081074/). Obrigado por teres dado uma banda sonora cinematográfica à minha vida e me fazeres sentir como um rei de Hollywood.

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