Rejubilem. Bruce Springsteen voltará a Portugal em Maio, 4 anos depois do seu último concerto no Rock In Rio Lisboa e 2 anos depois do cameo em "Tumbling Dice" com os Stones. A reacção nas redes sociais foi forte e outra coisa não seria de esperar. Não há outro artista a quem eu já tenha visto tamanha devoção, como a Bruce Springsteen. As pessoas não amam só a música dele, as pessoas amam o homem; amam-no incondicionalmente e seguem-no para todo o lado, como se de uma religião se tratasse. São décadas disto. Eu falo à vontade do assunto, porque eu próprio sou um devoto (planeio vê-lo 3 vezes este ano: LA, Lisboa e Madrid). E Bruce retribui essa devoção ao vivo, despejando o depósito noite após noite.
Para quem nunca o viu ao vivo, para quem nunca "sentiu", toda esta divagação pode soar estranha e exagerada. "É só um gajo a cantar!", disse-me uma vez um radialista céptico. Negativo. É muito mais que isso. Mas só se compreende estando lá, não há volta a dar. Agora que ele vem "cá" outra vez, a melhor forma para lançar o novo concerto é recordar o que escrevi poucas horas depois do fim do último, ainda de sobremaneira afectado pelo êxtase e pela falta de sono. Aqui vai:
Nota prévia: Se não estão preparados para (mais) um texto cheio de superlativos e loas a Bruce Springsteen, devem abandonar desde já este espaço. Aqui sempre se adorou, adora-se e vai continuar a adorar-se o Boss.
Segunda nota prévia: Por volta das 21:30 de ontem, a meio do concerto dos James no Palco Mundo, Tim Booth deu o mote para o que se passaria umas horas mais tarde. No alto daquele ar pálido de ex-presidiário em tentativa de reinserção na sociedade, Tim contou uma história que terá marcado o fim da sua adolescência rebelde:
"I was a 16 years old punk rocker, all my role models were self destructive. I was into the Sex Pistols and Iggy Pop and a 100 other tortured artists who wished to come on stage and cut themselves for people's entertainment.
And then... when I was 17, a friend of mine bought me a ticket to see a concert in Birmingham. I didn't wanna go, because I didn't like the guy's music. And they dragged me along to this guy's concert and after the 3rd song, I was standing up with the biggest smile on my face. That was Bruce Springsteen & The E Street Band.
They showed me another kind of artist that doesn't have to burn himself out... That doesn't have to cut themself for people's entertainment. They showed me a new way of being onstage. So, it's a great pleasure to be here this evening, with you and with them.
We need more role models like Bruce Springsteen. I needed one."
Bruce Springsteen & The E Street Band ao vivo, como uma "life changing experience", onde é que eu já ouvi isto? É uma história cujos contornos são comuns a milhares de pessoas em todo o Mundo e que ontem foi partilhada por muitas mais. Depois do espectáculo sensaborão de Alvalade em 1993 com a Other Band (sim, a "outra" banda de Bruce foi mesmo baptizada desta forma imaginativa), havia uma clara onda descrente em relação ao Boss no nosso país. Até ontem. Ou melhor, até hoje, porque o Boss demorou a chegar e quando entrou no Palco Mundo do RiR, já passava das 0:00 de 4 de Junho de 2012.
Bruce demorou, mas quando chegou, não defraudou as expectativas e deu aquele que foi (para mim) o melhor (e mais longo?) concerto do festival. Foi mais que um concerto, foi uma experiência. Vou ter que escrever qualquer coisa sobre o que presenciei, mas não sei ao certo o quê, uma vez que ainda estou em êxtase pós-orgásmico. Por onde começar?
Foram 2 horas e meia de masturbação emocional colectiva. Um turbilhão de emoções. Milhares de vidas que nunca mais serão as mesmas. Porque a partir de ontem, para essas pessoas houve qualquer coisa "lá dentro" que mudou, uma paixão que acordou. Foi assim que aconteceu com Tim Booth na sua juventude, foi assim que aconteceu com o meu melhor amigo que, tal como Tim, também eu "arrastei" para o concerto de ontem. E tal como Tim, também ele deu por si com um sorriso idiota na cara ao fim do 3º tema. São muitos anos a arrancar sorrisos a carrancudos.
Desde as 2:30 de hoje, hora que arrancaram Bruce do palco com fogo-de-artifício, que a imprensa se rendeu e multiplicou loas ao Boss, elegendo a sua actuação como o ponto alto do Rock In Rio 2012. Mas não só. Hoje já li críticas que vão desde "o concerto do festival", passando pelo "concerto do ano", até ao "concerto da década”. Como disse ontem Bruce, após um "Twist And Shout" já com foguetes ao fundo: "You've just experienced the legendary E Street Band!". Ninguém se pode queixar que não foi avisado. Na introdução de "Spirit In The Night" (tema de onde é retirado o título desta crónica), Bruce revelou ao que vinha :
"The E Street Band has come thousands of miles, just to be here in Lisbon tonight. And we've come here on a mission!
We're gonna bring the power! We're gonna bring the glory! We're gonna bring the fun! We're gonna stimulate your sexual organs, with the power of Rock N' Roll!
Can you feel the spirit? Can you feel the spirit now?"
E assim foi. Depois de 3 dias consecutivos de Rock In Rio, hoje estou de rastos. Sem voz, com a garganta rebentada e já não sinto pernas, pés ou costas. Estou mais morto que vivo, mas estou feliz. Com o tal sorriso idiota na cara.
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