terça-feira, 17 de novembro de 2015

Contra o medo, whisky e Rock N' Roll

Cada um escolhe o seu evangelho e os meus foram escritos por Beatles, Queen, Pink Floyd e Springsteen.



Permitam-me hoje um tom particularmente sério. Os ataques terroristas de sexta-feira em Paris deixaram-me muito perturbado, não tanto pela proximidade, mas sim pelo alvo: bares, restaurantes, futebol e música. Imaginem se sexta-feira à hora de jantar atacassem simultaneamente o Bairro Alto, o Cais do Sodré, o Estádio da Luz num jogo da Selecção Nacional e o Coliseu dos Recreios durante um concerto. Eu estaria num destes locais de certeza absoluta.

Está claro que este foi um ataque à nossa forma de viver e à nossa cultura, mas de todos os alvos, o que me deixa mais perturbado é o Bataclan. Atacar a música? Porquê?! Não dá para entender. A música é a nossa forma de viver mais congregadora e inofensiva. Até o Irão já acolheu a música dos Queen há mais de uma década. As salas de concertos são lugares sagrados da nossa civilização, locais de peregrinação onde estranhos se cruzam e criam laços em torno de um amor comum: a música.

A maioria das vítimas destes atentados eram jovens rockers cujo pecado foi um concerto numa sexta à noite. Podia ter sido ido eu ali. Este é o meu povo. Esta é a minha gente. Gente que ali dentro, em frente ao palco a curtir a música, não tem cor, clube, nação, religião, ou sex... género (sexo têm, às vezes). Gente que se junta nestes locais sagrados de comunhão de alegria, para celebrar a música.

Na sequência dos atentados, foram cancelados os concertos de U2, Deftones e Motörhead em Paris, bem como as digressões europeias dos Foo Fighters, Prince e, obviamente, dos Eagles Of Death Metal. Compreendo as decisões das bandas, especialmente dos EODM (não consigo imaginar o que passa pela cabeça deles depois de uma coisa destas), mas feito o luto, é preciso marcar posição e seguir em frente.

Depois do que aconteceu, todos temos medo. É inevitável, eu também o tenho. A questão aqui é se nos deixamos vencer por ele. Se há coisa que eu abomino, se há que coisa que eu não admito na minha vida, é a política do medo. Agora, mais do que nunca, não podemos sucumbir à cultura do medo, não nos podemos render. Agora é preciso demonstrar que não é por isto que vamos mudar o nosso modo de vida. Não podemos deixar que nos digam onde é que vamos hoje à noite.

O comunicado reivindicativo do Daesh refere o Bataclan como um local "onde centenas de apóstatas se juntavam numa festa de devassa e prostituição". Não gosto de discutir assuntos religiosos. Cada um escolhe o seu evangelho e os meus foram escritos por Beatles, Queen, Pink Floyd e Springsteen. Na sexta-feira atacaram uma das minhas mesquitas e a minha retaliação será feita continuando nessa devassa das orgias musicais em concertos regados a cerveja e whisky. Contra o medo, até ao fim. Contra o medo, whisky e Rock N' Roll.

Sem comentários:

Enviar um comentário