segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Vodafone Mexefest 2015: as noites do bizarro e do fascinante

A história do último festival da temporada festivaleira

E eis que chegamos à derradeira paragem da temporada festivaleira de 2015. E que viagem foi esta, que nos deu concertos eternos de Tame Impala, Blur (e Chromeo, já agora) e que a mim deu um pé partido em The Prodigy. Como acontece desde 2011, para último ficou reservado o GP Suzuka dos festivais portugueses — o Vodafone Mexefest. O Mexefest é o festival que dá prioridade a bandas mais obscuras e afastadas do circuito mainstream, umas porque ainda não chegaram lá, outras porque a sua imagem não pode ser vendida a muita gente (Peaches, estou a falar de ti). É esta mistura heterogénea de bandas, aliada a uma distribuição caótica de horários e a uma alocação única de salas que faz do Mexefest um saco de gatos que tem tanto de bizarro, como de fascinante e até empolgante.
Empolgante porque permite que cada espectador possa produzir o seu próprio festival (boa ideia, a da app). Este é o meu Mexefest.

A primeira noite começa com um concerto no âmbito do surreal. Sozinho em palco, apenas com um técnico de som escondido lá atrás, La Priest é um one-man-band que produz uma malha sonora psicadélica que enche o Tivoli e hipnotiza uma audiência que rejeita o conforto das suas cadeiras em favor de passos de dança furiosos. Eu ainda não tinha bebido nada e talvez por isso não tivesse curtido o concerto como devia. E eu até gostei muito de "Inji", o álbum que La Priest trazia na bagagem.

Desço a avenida rumo ao Coliseu (o Mexefest é mesmo isto — uma correria desenfreada entre salas) onde dentro de poucos minutos entrariam os Chairlift — uma das bandas que mais ouvira nas últimas semanas. Que desilusão. A banda não consegue conquistar o público com o seu Synthpop tricotado e o volume envergonhado que sai dos altifalantes. De tal forma que se ouve mais ruído do público a conversar que a própria banda em palco... isto durante a música. Nunca tinha presenciado nada desta escala. Entre temas, o ruído é ensurdecedor e obriga a banda a explicar-se: "estamos a tocar material novo". Os Chairlift despedem-se com "Ch-ching" e eu nem sequer ouço o meu "Amonanesia".. Baah que desilusão. Tantas expectativas goradas.

Hora de Bully na EPAL. A banda punk de Nashville toca numa sala minúscula, à pinha. São as condições perfeitas para a música que trazem. Agora sim, temos concerto. O set é curto, conciso e demolidor. É o primeiro mosh da noite, o meu primeiro desde o pé partido e a primeira sensação de libertação que o festival me oferece. Daquelas sensações que só a música nos dá.

Quando uma multidão já fazia fila desde o Coliseu ao Ateneu para ver a cena hipster do momento, eu fico pelo Ateneu para ver a banda que fez um dos álbuns do ano — Titus Andronicus. Nada contra Benjamin Clementine, mas as contingências das sobreposições horárias do Mexefest assim o ditam. Surpreendentemente, o gimnodesportivo do Ateneu está muito bem composto. O público nas filas da frente é facilmente reconhecível — basicamente os mesmos de Bully — só rockers, muitos deles pertencentes à doutrina beto-urbano-punk, que cruza o cabelinho à agro-beto da Golegã, barba urbana e iPod com a discografia de Sex Pistols. Cuidado, que isto é malta que vem para o mosh com as noções dos treinos do rugby do Técnico. O concerto tem volume nos limites, cervejas a voar, mosh agressivo e Rock N' Roll. A loucura. "Fired Up" arranca a maior reacção do público. "Escreve lá na NiT que o som está uma merda!!!", gritam-me aos ouvidos. De facto. Tenho pena de não conseguir ouvir a banda em condições, mas o som que vem da mesa de mistura tornava impossível distinguir o que quer que fosse.

A poucos minutos do fim de Titus Andronicus, não resisto e vou espreitar o que se passa no Coliseu com Benjamin Clementine (I had to know what the hype was all about). Tenho que me meter à socapa num dos camarotes para conseguir ver alguma coisa. Concerto à pinha, como eu nunca vira o Coliseu. Ainda chego a tempo dos últimos temas, com direito a encore com solo de bateria. Do que vi (correndo o risco de ser injusto por julgar uma parte do concerto pelo seu todo), pareceu-me uma sala demasiado grande e histérica para a música intimista de Benjamin, que lutava sozinho contra os urros de quem queria chamar a si o centro das atenções. É pena. Ficará para ver noutro dia, noutras condições mais adequadas.

Fim do primeiro dia.

O segundo dia começa com Ariel Pink no Coliseu. Wow, quem é que falou em bizarro? Munido com um álbum interessante "pom pom" e um bass-drum capaz de deslocar as fundações do Coliseu, o americano parece apostado em mexer com o sistema sensorial do público, mas não pelas melhores razões. As baixas frequências estão tão proeminentes que se torna praticamente insuportável estar ali, já para não falar na impossibilidade em perceber o que sai da boca dele.

Saio do Coliseu a uma hora do início de Peaches e já a fila para o Tanque chega ao Politeama. Era o concerto que eu mais esperava de todo o festival e pelos vistos o meu entusiasmo é partilhado com muita gente (talvez merecesse uma sala maior). Chego ainda a tempo de ver a Teresa "Da Chick", acompanhada por Mike El Nite e Moullinex, dar um concerto pleno de energia, mandando os "filhos e os pais para casa" com o vibrante "You Make Me Feel (Mighty Real)" de Sylvester James.

Depois... Depois chega Peaches. E que dizer acerca do concerto de Peaches? Palavras serão sempre curtas para descrever este concerto. É algo que vai para além da minha palete sensorial conhecida: há a visão, a audição, o tacto, o paladar, o olfacto... e o concerto de Peaches. O cenário é a Peaches, a Peaches e uma mesa de DJ (e uma participação especial da Da Chick). A música é um Electro-punk que eu melhor descreveria como uma versão hardcore dos Human League, depois de serem tomados de assalto pela miúda que entretanto virou punk. O público é o mais andrógino onde já estive, a fazer jus à canção dos Blur: girls who are boys, boys who are girls, boys who do boys, boys who do girls, girls who do girls. Aqui não interessa quem és ou de quem gostas, estamos todos unidos pela música.
Peaches dá um concerto libertador de preconceitos, com o velocímetro dos excessos a bater no vermelho: andou em crowdsurfing pelo público, ergueu duas bonecas insufláveis, despejou duas garrafas de champagne nas filas da frente e no fim esfregou duas toalhas nas suas partes íntimas frontais e traseiras, atirando-as para gáudio de alguns sortudos na audiência. "Talk To Me" e "Boys Wanna Be Her" são dois highlights do festival. Para quem esteve no Tanque e viu o que eu vi (quem chegou em cima da hora, ou não entrou, ou não viu nada), é fácil eleger o concerto do Mexefest 2015: Peaches, obviamente.

Depois disto, qualquer coisa seria aborrecida. Mas Patrick Watson esticou a corda. Tal como na noite anterior com Benjamin, Coliseu à pinha. Tento invadir novamente um camarote, mas desta vez sou apanhado pela segurança e enviado para o piso de cima. Lá em baixo, a mesma romaria de ontem. Na música de Patrick, em que os silêncios são tão importantes como as notas, o ruído da conversa chega a ser insuportável e na plateia são muitos os "sshhhh" de quem não aguenta mais a conversa do lado. Eu, que vinha do concerto de Peaches com os sentidos a bater no máximo, não aguentei o tédio. Noutro dia, quem sabe, noutras condições.

O balanço do Mexefest 2015 posiciona-o firme como um one-of-a-kind no nosso calendário festivaleiro. Não haveria outra maneira de juntar Titus Andronicus, Benjamin Clementine, Peaches e Patrick Watson, todos no mesmo evento. A NiT esteve no festival a convite do Grupo Turim Hotels, parceiro do Vodafone Mexefest.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

U2 de volta a Portugal em 2016? Não se entusiasmem muito com a ideia

Calma.

Já prevendo a tempestade que se vai abater (mais uma vez) sobre os U2 quando soubermos que eles "afinal não vêm a Portugal em 2016", sou obrigado a pôr água na fervura das notícias que têm percorrido a comunicação social esta semana. Eu sei, foi uma desilusão não os verem aqui este ano e já estão entusiasmados com a "certeza" que eles vêm no próximo. Eu sei, até já pediram os dias de férias ao chefe e já perguntaram à Dona Irene se pode ficar com o Martim na primeira semana de Julho. Eu sei disso tudo e não quero ser desmancha-prazeres, mas deixem lá a Dona Irene em paz. Neste momento, está muito longe de ser líquido que os U2 venham a Portugal em 2016.

Tudo começou com uma notícia da Blitz que anunciava que os "U2 chegam à MEO Arena na primeira semana de Julho". O título é forte e gerou uma euforia tal (porque temos o bonito hábito de ler apenas os títulos das notícias) que até foram criados eventos no Facebook, onde milhares de pessoas já asseguraram presença em concertos inexistentes. O problema é que ninguém deu muita importância ao subtítulo da notícia da Blitz: "Só os trabalhos do novo álbum dos U2, "Songs of Experience", poderão alterar as datas da digressão europeia de 2016." Pois é. Só que este "só" é um grande "só".

Neste momento, tudo não passa de uma encruzilhada de rumores. Ouve-se um rumor aqui, um rumo ali, muitas vezes eles são contraditórios e nem por isso deixam de ser todos verdadeiros. Se me parece evidente que há conversações e que os U2 têm a primeira semana do Atlântico "reservada" com um ano de antecedência (porque são o tipo de banda que pode fazer isso), se tal nunca foi confirmado é porque os U2 não estavam certos dos seus planos. Eu gosto de confirmar os meus rumores com quem mais sabe da poda, que normalmente são os fãs acérrimos da banda, farejadores de todos detalhes debaixo do tapete. E esses desde Sábado que não estão muito optimistas. Tanto os alemães do U2tour.de, como os holandeses do U2start.com, o U2 en España e o nosso U2Portugal, todos citam fontes próprias que alegam que os planos para a digressão europeia em 2016 vão ser cancelados em favor das gravações de "Songs Of Experience" (que segundo o fotógrafo dos U2 Anton Corbijn, sairá em Setembro de 2016). Já é muita gente a dizer a mesma coisa.

Eu, mais que ninguém, quero estar enganado. No fim de contas, até sou dos que sai mais prejudicado com este volte-face, pois fazendo fé nos rumores paguei há duas semanas a subscrição anual no site oficial dos U2 e agora fico a arder. Rumores são rumores e nada nos diz que eles não mudam de ideias outra vez, mas não se entusiasmem uma miragem e não desesperem se o tempo passar e nada mais ouvirmos dos concertos de Julho. Até porque como é que se cancelam concertos que nunca foram confirmados?

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Contra o medo, whisky e Rock N' Roll

Cada um escolhe o seu evangelho e os meus foram escritos por Beatles, Queen, Pink Floyd e Springsteen.



Permitam-me hoje um tom particularmente sério. Os ataques terroristas de sexta-feira em Paris deixaram-me muito perturbado, não tanto pela proximidade, mas sim pelo alvo: bares, restaurantes, futebol e música. Imaginem se sexta-feira à hora de jantar atacassem simultaneamente o Bairro Alto, o Cais do Sodré, o Estádio da Luz num jogo da Selecção Nacional e o Coliseu dos Recreios durante um concerto. Eu estaria num destes locais de certeza absoluta.

Está claro que este foi um ataque à nossa forma de viver e à nossa cultura, mas de todos os alvos, o que me deixa mais perturbado é o Bataclan. Atacar a música? Porquê?! Não dá para entender. A música é a nossa forma de viver mais congregadora e inofensiva. Até o Irão já acolheu a música dos Queen há mais de uma década. As salas de concertos são lugares sagrados da nossa civilização, locais de peregrinação onde estranhos se cruzam e criam laços em torno de um amor comum: a música.

A maioria das vítimas destes atentados eram jovens rockers cujo pecado foi um concerto numa sexta à noite. Podia ter sido ido eu ali. Este é o meu povo. Esta é a minha gente. Gente que ali dentro, em frente ao palco a curtir a música, não tem cor, clube, nação, religião, ou sex... género (sexo têm, às vezes). Gente que se junta nestes locais sagrados de comunhão de alegria, para celebrar a música.

Na sequência dos atentados, foram cancelados os concertos de U2, Deftones e Motörhead em Paris, bem como as digressões europeias dos Foo Fighters, Prince e, obviamente, dos Eagles Of Death Metal. Compreendo as decisões das bandas, especialmente dos EODM (não consigo imaginar o que passa pela cabeça deles depois de uma coisa destas), mas feito o luto, é preciso marcar posição e seguir em frente.

Depois do que aconteceu, todos temos medo. É inevitável, eu também o tenho. A questão aqui é se nos deixamos vencer por ele. Se há coisa que eu abomino, se há que coisa que eu não admito na minha vida, é a política do medo. Agora, mais do que nunca, não podemos sucumbir à cultura do medo, não nos podemos render. Agora é preciso demonstrar que não é por isto que vamos mudar o nosso modo de vida. Não podemos deixar que nos digam onde é que vamos hoje à noite.

O comunicado reivindicativo do Daesh refere o Bataclan como um local "onde centenas de apóstatas se juntavam numa festa de devassa e prostituição". Não gosto de discutir assuntos religiosos. Cada um escolhe o seu evangelho e os meus foram escritos por Beatles, Queen, Pink Floyd e Springsteen. Na sexta-feira atacaram uma das minhas mesquitas e a minha retaliação será feita continuando nessa devassa das orgias musicais em concertos regados a cerveja e whisky. Contra o medo, até ao fim. Contra o medo, whisky e Rock N' Roll.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Crítica: One Direction - "Made In The A.M." | Música para montagens de fotos

"Made In The A.M." não vai ganhar novos fãs aos One Direction, mas também não vai desapontar os antigos




De quando em vez, ocorre na nossa vida um evento que, sem nos apercebermos, a define para sempre. Um dos eventos que definiu a minha relação com a música deu-se no Natal de 1997, quando o meu tio Jorge ofereceu um cheque-disco (para quem não sabe, um voucher para comprar um CD) a mim e ao meu primo João Pedro. Dias mais tarde, fui com o João à loja de discos de Castelo Branco e ele fez com o cheque-disco o que um miúdo de 12 anos faz: comprou o disco da moda. Enquanto ele levou para casa o álbum "Backstreet's Back" dos Backstreet Boys, eu fiquei intrigado com a capa de um disco sentado na prateleira dos clássicos e trouxe comigo um tal de "A Day At The Races" dos Queen. Mas não fiquei convencido. Como todos os miúdos, também eu queria ser o mais fixe da turma e fui por isso a casa do meu primo ouvir o que tinha perdido. A hora que se seguiu deixou-me para sempre descansado com a minha decisão. Quando a NiT me lançou o desafio de ouvir o novo disco dos One Direction "Made In The A.M.", cruzei-me com o meu passado e foi como se voltasse para aquela hora na casa do meu primo.

Antes de avançar, devo dizer que nada me move contra os rapazes dos One Direction, nem contra as boys-bands em geral (sou fã acérrimo dos Wham!). As boys-bands vêm desde a Motown e nos últimos 50 anos houve umas melhores e outras piores. Mas qualquer coisa se passou em meados da década de 90 e as boys-bands deixaram de ser formadas por músicos com boa imagem, para passarem a ser um conjunto de miúdos com boa imagem que sabem dançar e, nalguns casos, também sabem cantar. A palavra-chave "músicos" foi à vida. Os One Direction inserem-se nesta nova fase: são fulanos a cantar e dançar música composta por sicranos e interpretada por beltranos. Eles são o que são e não pretendem ser mais que isso mesmo, esse não é o meu problema com eles. O meu problema com eles é mesmo a música.

O novo álbum "Made In The A.M." nem começa mal: "Hey Angel" é um tema catchy que quase não sofre do síndrome da Pop ultra-processada que agora infecta as estações de rádio. É um indicador positivo, mas imediatamente negado quando chegam "Drag Me Down" e "Perfect", os singles de promoção do álbum. Se é para a rádio, tem que ser igual a tudo o que lá passa, pois claro. Mas o pior chega em "End Of The Day", um tema que é tão genérico, tão medíocre, tão igual-a-tudo, tão cruzado entre Coldplays, Aviciis, Mumfords e outros Sons, que é doloroso chegar ao fim. Mas calma Nuno, que ainda só estamos na quinta faixa.

"If I Could Fly" vem a seguir e é uma balada ao piano, com violinos no clímax. Genérico? Claro, mas nada de ofensivo. Menos quando corrigem o tom do voz com o autotune. Eles no mínimo deveriam saber cantar, não é? "Long Way Down" é mais uma balada, esta ao estilo de "Drops of Jupiter" dos Train. "Never Enough" é S Club 7 com refrão Muse. "Walking In The Wind" é Jack Johnson e Sheppard no sunset de Tróia. E assim se sucedem as genericidades, tema a tema, até ao fim do álbum. "Made In The A.M." não vai ganhar novos fãs aos One Direction, mas também não vai desapontar os antigos. É Pop ultra-polida, destinada às bandas sonoras de montagens de fotos em férias para publicar no Facebook. Não é mau, não é ofensivo, é só desesperadamente genérico; mas serve bem o seu propósito. Tudo plástico, tudo pela rama, profundidade inexistente. Eis mais um álbum dos One Direction.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Não, não são os Queen. Mas "eu vou" na mesma

Afinal quem é que vem ao Rock In Rio-Lisboa?



Ontem à noite, a internet foi invadida por títulos garrafais um tudo-nada enganosos: QUEEN EM PORTUGAL; QUEEN NO ROCK IN RIO-LISBOA; QUEEN TRAZEM NOVO VOCALISTA QUE SUBSTITUI FREDDY MERCURY. Não, não e não. Está tudo mal, está tudo errado.

Em primeiro lugar, quem é este Freddy que eu vi em todo o lado? Não conheço. O nome que o vocalista dos Queen escolheu foi Freddie Mercury e se começamos a achar este erro de somenos, falemos também dos Beetles, dos Punk Floyd e dos Trolling Stones.

Em segundo, quem vem a Portugal não são os Queen, é Queen+ Adam Lambert. Não sou eu que o digo, são os próprios. Reparem no cuidado da nota à imprensa e atentem na forma meticulosa como a própria banda trata o assunto: "Queen+ Adam Lambert vão ser cabeças de cartaz no Rock In Rio-Lisboa 2016", em oposição a "Queen foram cabeças de cartaz no primeiro Rock In Rio em 1985", na Barra da Tijuca. São coisas diferentes e devidamente separadas. Adam Lambert não "é dos Queen" e não substitui ninguém, ele "vem com os Queen".
O mais cínicos dirão que pela leis da aritmética, se somamos Adam Lambert no nome, temos que subtrair Freddie Mercury e o baixista John Deacon. Certo. Mas convenhamos que o nome nos cartazes ficaria demasiado longo.

Os Queen morreram com Freddie Mercury, no dia 24 de Novembro de 1991. Ressuscitaram várias vezes desde então, é verdade: primeiro com o histórico concerto de tributo em 1992, que reuniu toda a nata do Rock em torno dos restantes membros da banda no local onde Freddie fora coroado o Rei; e em 1995, com o lançamento das gravações finais de Mercury no álbum "Made In Heaven". Depois, o baixista John Deacon abandonou a banda com a convicção que não valia a pena procurar novo dono para as sabrinas de Freddie, porque elas não iam servir a mais ninguém. Dos Queen, sobraram apenas o baterista Roger Taylor e o guitarrista Brian May, que ficaram com um grave problema entre mãos: uma enorme vontade de continuar a fazer música e tocar os seus êxitos, mas sem nenhum substituto à altura do Rei Freddie. Começou então a demanda por um novo dono das sabrinas.

Primeiro veio Paul Rodgers, o sonhador. O Paul chegou em 2004, cheio de boas intenções e viu na banda uma oportunidade para começar algo de novo, interessante e desafiante. Mas Brian May só queria os "seus" estádios de volta e não estava preparado para tratar o projecto como outra coisa que não uma banda de tributo aos Queen. Queen+ Paul Rodgers foi isso mesmo e no início, foi óptimo. O sucesso da primeira digressão foi tal (eu próprio fui a dois concertos), que Brian e Roger decidiram arriscar um álbum de originais com Paul, com o sucesso que conhecem. Ou melhor, provavelmente nem sequer conhecem de todo. Como as paixões de Verão — curtas, intensas e pouco realistas — Q+ PR não sobreviveram ao choque com a realidade. A banda estava partida em duas facções e foi uma questão de tempo até Paul perceber que estava a mais e sair. No fim de contas, foi uma colaboração curta, mas que deu alegria a muita gente que pôde ver Brian May e Roger Taylor ao vivo pela primeira vez (eu! eu!), capitalizando a fome do público pelos Queen.

É com base nessa infindável fome do Mundo pelos Queen, que Brian May e Roger Taylor continuam no seu projecto de banda tributo glorificada, agora com Adam Lambert. Ao contrário do ambicioso Paul, imagino que Adam esteja contente por fazer aquilo que lhe mandam, sem levantar muitas ondas. Sendo dono de capacidades vocais acima da média, reconhecidas pelo "Ídolos" americano, é o perfect man for the job. Em digressão desde 2012, Queen+ Adam Lambert chegam agora a Portugal para o Rock In Rio-Lisboa e eu lá estarei obviamente, nem que seja só para rever o Brian e o Roger. Não, não são os Queen. Mas "eu vou" na mesma.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Os dias das nossas vidas: 30 anos de Queen no Live Aid e outras efemérides

Hoje é um dia especial para mim e para os Queen.




Hoje é um dia especial para mim e para os Queen. Faz hoje exactamente 30 anos que foi lançado "One Vision", o primeiro tema que juntou os quatro membros dos Queen na composição, inspirados pela noite triunfal que tiveram, meses antes, no Live Aid - a noite em que os Queen reinaram o Mundo e o mito de Freddie Mercury nasceu.

Quando Freddie conduzia a audiência em "We Will Rock You" com um grito de "I like it, sing it again!", milhares de milhões de espectadores em todo o Mundo já moravam na palma da sua mão. O Wembley, esse era seu desde que "Radio Ga Ga" pusera as 74 mil pessoas que enchiam o estádio a bater palmas com a coordenação de um comício nazi. E aqui reside a magnitude deste feito: aquele não era sequer o público dos Queen.

No Wembley havia U2, Elton John, David Bowie, reunião dos The Who e Paul McCartney a cantar Beatles. Todos os grandes nomes da Pop Rock estavam no Live Aid, incluindo os líderes das tabelas de então. A maioria da audiência em Wembley, pelo menos a falange mais nova, estava lá para ver os U2 (reparem nos cartazes à frente do palco), a banda jovem e sensação da época. Aquele não era o público dos Queen, mas aquela era a noite de Freddie Mercury.

Naquela noite, Freddie queria mais que o Wembley, Freddie queria o Mundo. E agarrou-o, ao dançar com o cameraman em "Hammer To Fall", como se desse a mão às 1.9 mil milhões de pessoas (um terço da humanidade) que o viam em casa. E foi assim, que na noite de 13 de Julho de 1985, o planeta acordou para um facto que estivera o tempo todo à sua frente: não havia um showman como Freddie Mercury, com uma capacidade sem paralelo para captar a audiência. Não havia e não voltou a haver. O Wembley parecia uma pequena chávena para o brilho da estrela que explodia em palco. Assim foi a vida de Freddie Mercury: como uma estrela que brilhou muito, muito rápido, muito intensamente e explodiu, porque o universo não aguentava com tanto brilho.

E assim nasceu o mito de Freddie Mercury, no Live Aid, onde os Queen deram à humanidade os melhores 20 minutos da sua História. O filho dessa noite nasceria a 4 de Novembro de 1985 e chamar-se-ia "One Vision".

Hoje é um dia especial. Enquanto os Queen lançavam "One Vision" no Reino Unido, quis o destino que a milhares de quilómetros, numa cidade perdida no interior de Portugal, nesse mesmo dia nascesse um enorme fã da banda.. Faz hoje exactamente 30 anos.