quinta-feira, 12 de maio de 2022

Os Arcade Fire estão de volta, mas calma, não há razão para alarme

A banda canadiana regressa com "WE", o seu melhor disco dos últimos 10 anos.


Os Arcade Fire têm um álbum novo e a primeira coisa que me passou pela cabeça foi "será que o mundo não está a sofrer o suficiente?". A banda que se auto-esgotou ao se tornar um pastiche de si mesma regressa com o primeiro disco desde o pavoroso "Everything Now" de 2017, cujo tema-título tantas vezes me fez procurar por objectos pontiagudos para perfurar os ouvidos, sempre que despudoradamente aparecia na rádio. Sabendo que os últimos discos dos Arcade Fire foram penosamente longos, já estava preparado para uma hora de sofrimento quando pus o novo "WE", lançado na última Sexta-Feira. Não havia razão para alarme.


"WE" é facilmente o melhor disco dos Arcade Fire desde "The Suburbs", que ganhou o Grammy para melhor álbum do ano em 2011. Menos obcecados com o pastiche Disco contente, que é como quem diz, menos Imagine Dragons e mais LCD, os AF parecem ter-se reencontrado com a simples receita do foco no básico - a melodia. Precisamente aquilo que levou o público a apaixonar-se por eles há 15 anos.

O álbum abre ao som do piano aconchegante de "Age Of Anxiety I" e desde logo, sabemos que estamos em casa. A introdução dá lugar a um pulsante tema Synthpop, clássico Arcade Fire. O piano é, aliás, o fio condutor de todo o disco, imprimindo um registo mais épico aos sintetizadores barrocos do grupo. Esta fundação em ganchos melódicos no piano é o factor que valida as canções e faz de "WE" o melhor álbum dos Arcade Fire nos últimos 10 anos.

O ponto alto do álbum surge quase no fim, com o mutante World-Music / Synthpop / Alt-Rock "Unconditional II", tema que tem a participação especial de Peter Gabriel. Embora o ex-vocalista dos defuntos Genesis passe praticamente despercebido, este é o tema que condensa todas as ideias que caracterizam os Arcade Fire. Talvez tenha sido o Peter a lembrar aos canadianos o que eles fazem de melhor. 

O nadir do disco é, de longe, a sequência "The Lightning I" / "The Lightning II", momento Mumford & Sons que, com ou sem surpresa, foi exactamente a escolha do grupo para single de promoção do álbum. É o maior lapso dos Arcade Fire em "WE", uma réstia infeliz dos tempos de "Everything Now".O álbum termina em paz, num registo acústico atmosférico Ryan Adams, com o tema-título "WE". Consumado o triunfo da banda dos Butler.

Para trás, esperamos, estão os tempos da ironia de segundo grau e do dress code formal "aconselhado" nos concertos. A banda que durante anos condensou a ideia do hipsterismo, ao mesmo tempo que era mais mainstream do que as bandas declaradamente Pop, cabeça de cartaz no Rock In Rio com o Justin Timberlake, abandona a forma e regressa à substância. Saúde-se este regresso aos grandes discos dos Arcade Fire.

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