quarta-feira, 14 de junho de 2017

Slash é Deus e outras notas do concerto dos Guns N' Roses

Passadas duas semanas, ainda estou em lua de mel com aquela noite mágica no Passeio Marítimo de Algés


Sexta-feira, 3 de Junho. Fui ao Passeio Marítimo de Algés ver os Guns N' Roses pela terceira vez, mas a meio do primeiro tema percebi que afinal era a só primeira vez que eu estava a ver Guns N' Roses. As duas primeiras (2006 e 2010) foram outra coisa qualquer que depois disto, eu nem me quero lembrar. Foi uma revelação. Depois dos anos das trevas, a minha fé nos Guns N' Roses foi restaurada. E acho que os 60 mil ali presentes sentiram o mesmo.

Desde então, passaram-se duas semanas, mas ainda estou em recuperação do concerto. Literalmente, porque algures no meio da confusão, alguém me terá passado uma daquelas belas viroses e a minha garganta ainda não recuperou; e porque ainda estou abananado com o que vi e senti em frente àquele palco. Seguem-se algumas notas sobre o concerto, com o habitual aviso que podem esperar superlativos.

Vou começar por fazer uma revelação da forma mais heterossexual que conseguir. Aqui vai: o Slash a tocar guitarra é das coisas mais lindas, mais maravilhosas, que se pode ver em vida. Period. É uma visão deslumbrante, olhar para aquele desenho animado humano de cartola em cima de uma farta cabeleira, a expelir sons divinos de uma guitarra. A alma que Slash injecta à música (mesmo quando não é escrita por ele) é uma virtude tão superlativa que só pode ser classificada de uma forma: é um dom. Foi a primeira vez que ouvi o seu cover de "Wish You Were Here" (obra de outro Deus da guitarra) e para não vos dizer que foi do caralhão (não posso fazer uso de palavrões aqui), digo só que foi um dos pontos altos do concerto. Slash é Deus. Period.

O Duff é uma máquina de coolness clinicamente bem oleada. O baixo e o penteado estão sempre no ponto. Tudo bem feito.

Adoro o tio Axl. Fui um dos poucos que saiu em defesa da sua escolha para novo vocalista dos AC/DC antes do histórico concerto de Algés (depois foi fácil, até o Guardian lhe deu 5 estrelas). Mas se no ano passado ele esteve imperial, este ano mostrou zonas cegas no espectro vocal e entrou demasiadas vezes em modo Mickey Mouse. Também não me pareceu muito bem disposto, embora não tenha sido isso a afectar a sua performance. O pior foi a inexplicável insistência em assassinar a sua própria versão de "Knockin' On Hevaen's Door" de Bob Dylan, que todos aprendemos a amar com os seus "hey, hey, hey-hey-yeaah". Para onde foram?!

"Estranged" e "Coma" foram os musts da noite. Que delícia para os olhos e os ouvidos. Dois épicos imaculadamente interpretados, que mostram que os Guns N' Roses foram um dia a perfeita fusão entre a melodia de Elton John, a luxúria dos Aerosmith, a pompa dos Queen e a grandiosidade dos Pink Floyd e tudo isto em plena era do Grunge, que negava todos os anteriores.

"Better" nunca foi sequer um dos melhores temas dos "NuGuns" (Guns sem Slash e Duff) e não tem rigorosamente nada a ver com a sonoridade da banda original; chega a ser ofensivo ver isto ao lado dos clássicos. No pólo oposto está "This I Love", que parece talhada para as mãozinhas de Slash. Juntamente com "There Was A Time" (o melhor tema dos NuGuns, infelizmente ausente da setlist), "The Blues" ("Street Of Dreams", o tanas), "Catcher In The Rhye" (com Brian May!) e "Madagascar", merecia uma reimaginação com a banda original. Pensando nisso, até "Shackler's Revenge" poderia resultar; o que me leva a crer que no meio de algum verbo de encher e diluído em toda aquela super-produção, há um grande álbum escondido em "Chinese Democracy". Mas deixemos essa análise para outro dia.

Para já, o mais importante é que alguém agarre no Izzy – nem que seja com sacos de notas – e o meta dentro de um estúdio a escrever "canções dos Guns N' Roses". Porque só ele sabe exactamente como se faz. Mas lá estou eu a divagar; voltemos a Algés.

Não foi barato, mas fui para o Golden Circle. O veredicto? Foram os 130€ mais bem empregues do último ano. Ainda há pouco tempo houve quem desse 500€ por um saco-cama para ir ver o Papa, mas esse não tocava o "Paradise City" de costas. Eu dei 130€ e vi Deus. O que me leva ao próximo ponto.
Slash é Deus. Não sei se já tinha dito.

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