segunda-feira, 30 de maio de 2016
O dia negro do Rock In Rio
Em 12 anos de Rock In Rio em Lisboa já tivemos cartazes para todos os gostos. Tivemos Pop com Britney, Shakira a Ivete, tivemos Heavy Metal com Metallica, Slipknot e Rammstein e às vezes até tivemos Rock. Todos os cartazes foram diferentes mas todos tiveram uma coisa em comum: eram artista de Classe A; artistas que eram à data, ou foram em tempos, no topo do mundo.
Podemos gostar ou não, mas desde os Tokio Hotel até ao Roger Waters (dando exemplos em pólos opostos), os cabeças de cartaz sempre foram de indubitável craveira. Então expliquem-me, o que raio estão a fazer aqui os Hollywood Vampires como cabeça de cartaz? Joe Perry? Óptimo, que traga os Aerosmith. Alice Cooper? Maravilha, que traga as suas cobras. Johnny Depp? Porreiro, que venha apresentar o seu novo filme ao CCB. Os três juntos a tocar covers? Ok, se viessem abrir para Black Sabbath, Metallica ou Guns. Assim, qual é a ideia? Não faz sentido.
Já não bastava a redução de 5/6 bandas por dia para 3 (o musical não é para o Palco Mundo, lamento) e agora temos bandas de covers como cabeças de cartaz? O RiR Lisboa não merecia isto. Roberta, adoro-te por me teres trazido o Bruce Springsteen (e sei que qualquer coisa depois dele iria saber a pouco), mas o Rock In Rio que tão bem construíste não merecia isto. Nada contra os Hollywood Vampires e muito menos contra o Alice, o Joe, ou o Johnny. Mas nunca como headliners. Sem surpresa, foi ver durante a última semana o desfilar de bilhetes vendidos nas redes sociais a preços recorde. Ontem era mais caro jantar dentro do Rock In Rio, do que entrar no Rock In Rio.
Apesar das reservas, a noite até começou com uma agradável surpresa, com os Rival Sons — "We don't play Rock, we play Rock N' Roll". E deram mesmo um grande concerto de Rock N' Roll, pleno de decibéis. Bom início de noite.
Depois vinha a banda por que a maioria esperava — bastava olhar para as t-shirts espalhadas por todo o lado — os Korn. Nos idos finais dos anos 90, vivia-se no pico do Nu Metal, numa altura em que toda a gente gostava de Limp Bizkit, ouvir Korn era uma valência reservada aos puros. E só os puros que restaram vieram aqui hoje (alguns trouxeram os filhos). Tal não quer dizer que fossem poucos — mais de 50 mil segundo a organização. Mas foi aqui que vieram os problemas. Depois de duas falsas partidas devido a falhas de equipamento, os Korn começam finalmente o concerto com uma hora e dez minutos de atraso. A loucura. Copos de cerveja a voar, sofás insufláveis a voar, metaleiros a voar, metaleiros em cima de sofás insufláveis a voar. Os Korn tocam 25 minutos e quando faziam um cover de "One" dos Metallica, dá-se a terceira falha eléctrica e abandonam em definitivo o festival. Acabou por ser o momento mais Rock N' Roll do Rock In Rio, desde que o Axl fez do palco o seu próprio confessionário em 2001. Quem disse que falta Rock ao Rock In Rio?
As culpas foram imputadas ao equipamento dos Korn e eu até acredito que assim foi, mas como é que a produção pode permitir que isto aconteça, uma, duas e três vezes? Ainda mais num festival como o Rock In Rio, que sempre se pautou como um exemplo de organização com uma folha limpa neste tipo de falhas? Não quero bater mais na produção do RiR, já o fiz com a escolha pobre do cartaz deste dia, mas é preciso perceber que os metaleiros (fiéis ao RiR desde a primeira hora) foram muito mal tratados este ano. E é preciso emendar a mão de alguma forma. Dica: um dia especial lá para o fim do Verão com os Sabbath e os Guns (eu sei, isto já sou eu a ser guloso).
O fim da noite foi salvo pelos inatacáveis Alice Cooper e Joe Perry. E, por que não, pelo Matt Sorum (ex-Guns) na bateria — que bom que foi revê-lo. Ah e também lá estava o Johnny Depp, que está para os Hollywood Vampires como o Andrew Ridgeley estava para os Wham! — para acenar às meninas. O público começou desconfiado, a mostrar alguma resistência, mas quando Joe Perry fez de Pete Townshend e partiu a guitarra em "My Generation", a corrente começou a mudar. E ficou definitivamente rendido quando os Vampires arrancaram com "Whole Lotta Love" dos Led Zeppelin e depois com "Break On Through (Through The Other Side)" dos The Doors. Seguiu-se um agressivo mosh em "Rebel Rebel" (Bowie ficaria orgulhoso), para a audiência despejar aquela energia acumulada em Korn. O momento da noite chegaria quando Alice interpretou Alice, com "I'm Eighteen" (a fazer lembrar "Freaks And Geeks) e "School's Out". Os Hollywood Vampires podem ser uma mera banda de covers de bar, mas são provavelmente a melhor mera banda de covers de bar do Mundo. O único problema é que a seguir a eles não veio o headliner que se pedia.
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