quarta-feira, 21 de junho de 2017

O novo álbum dos Fleetwood Mac que não é dos Fleetwood Mac

Chegou o álbum que junta Lindsey Buckingham e Christine McVie. Vale a pena?


Se não forem fãs atentos dos Fleetwood Mac, é provável que não saibam que a banda mais dramática e emocionalmente instável dos anos 70 lançou um álbum novo este mês. Bem, mais ou menos. "Lindsey Buckingham Christine McVie" é, na prática, o novo álbum dos Fleetwood Mac em tudo menos no nome. Senão vejamos: todos os temas são escritos por Lindsey Buckingham e Christine McVie, dois terços do núcleo de compositores da formação clássica dos Fleetwood Mac; a secção rítmica que toca no álbum é composta por Mick Fleetwood na bateria e John McVie no baixo, nomes que acho que são auto-elucidativos; e por último, mas não menos importante, o álbum soa brutalmente a Fleewood Mac.

E como não soar a Fleetwood Mac? Afinal de contas, a equipa é a mesma. Só falta mesmo a Stevie Nicks. Mas quem precisa da Stevie Nicks, anyway? Nada contra a senhora, ela seria aqui muito bem-vinda com dois ou três temas da sua autoria e uns "Aaaahs" e uns "Oooohs" nas backing vocals, mas se a sonoridade está lá, será que ela é mesmo precisa? Só se for mesmo para dar direito a usar o nome. Mas se ela não queria ter trabalho, podia ter aparecido para tocar umas maracas num dos temas e resolvia-se a questão.

Não houve Stevie Nicks, não pôde haver Fleetwood Mac e foi aqui que começou um rol de equívocos. Começando logo pelo nome do álbum. Quem conhece as bases da história dos Fleetwood Mac, mais especificamente da sua formação clássica, saberá que Lindsey Buckingham e Stevie Nicks foram recrutados anos depois do vazio deixado pela saída do icónico compositor e guitarrista Peter Green (por este ter, digamos, "fritado" com as drogas) e o que lhes valeu a entrada na banda foi um álbum colaborativo que gravaram em 1973, nos tempos em que eram um casal, baptizado de "Buckingham Nicks". Faria portanto todo o sentido que este álbum, sendo uma colaboração entre Buckingham e McVie se chamasse... "Buckingham McVie". Foi esse o "working title" do álbum até à última hora e eu adorava que me explicassem a decisão de mudar.



Agora atentem na capa em cima. Será que era possível o Lindsey e a Christine estarem mais separados na foto da capa?! É que eu acho que nem as sombras se tocam. Para um álbum onde o afecto e a intimidade são temáticas recorrentes, não poderia haver capa mais fria. E tantas imagens melhores havia. Como esta foto de promoção, por exemplo:


Ou esta, com ambos sentados no sofá e Lindsey a mostrar todo o seu desconforto por estar ali (OK, esta talvez não):


E por que não a recuperação de uma imagem clássica, dos velhos tempos dos Fleetwood Mac?


A capa do álbum é uma aberração entre o esquisito e o inexplicável. Não acredito que ninguém foi capaz de avisar o Lindsey e a Christine que aquilo na melhor das hipóteses era medíocre e na pior passava a mensagem errada ao público (de afastamento). E se eu não conhecesse as capas obscenamente más dos álbuns a solo do Lindsey, ainda era capaz de suspeitar que era auto-sabotagem. "Buckingham McVie" (deixem-me ficar com o título antigo) tem tanto de elusivo, que eu me pergunto se os seus criadores querem mesmo que tenha sucesso.

Ainda me resta mais uma queixa relativamente a "Buckingham McVie": o som (pelo menos da versão que eu ouvi no Spotify). Mas que raio de assassinato sonoro vem a ser este? Para quê tanta compressão? Para quê o volume tão alto? Os álbuns dos Fleetwood Mac soam maravilhosamente bem, por isso sei que o Lindsey e a Christine sabem melhor que isto. Qual é a ideia? Apelar à "Geração Spotify"? Malta, ninguém vai ouvir o vosso álbum porque o apanharam na barra de sugestões do Drake ou da Ariana Grande. Vão ouvir porque conhecem os Fleetwood Mac. Ponto.

Agora que já ventilei as minhas reclamações, eis o meu veredicto. Nestes dias do Indie Rock perdido, bipolar e esquizofrénico, é sempre bom ouvir um álbum firmemente ancorado na melodia. E na positividade também. Para variar.
"Carnival Begin" é um dos temas do ano. É lindo, lindo, lindo. Eu sei, certamente não o vão encontrar nas listas dos melhores do ano nas publicações mais trendy, mas não deixem que isso afecte o vosso sentido de melodia. Lindsey e Christine navegam num ambiente acolhedor bluesista ("I want it all / All the colours and swings / A new merry-go-round / Carnival begin"), numa canção que só peca por terminar demasiado cedo, interrompendo o coito de um solo de guitarra tão belo e tão raro nestes tempos em que toda a gente se pela de medo por arriscar um solo num disco. Louvo-te a coragem, Lindsey.

Se são fãs da era clássica dos Fleetwood Mac (entre o álbum homónimo "Fleetwood Mac" de 1975 e "Tango In The Night" de 1987), vão adorar "Buckingham McVie"; é um "return to form" da dupla mais improvável dos Fleetwood Mac e o melhor trabalho desde o longínquo (e a todos os títulos maravilhoso) "Tango In The Night". Se são fãs da era de Peter Green, talvez isto não seja para vocês. Se só conhecem alguns temas avulsos dos Fleetwood Mac (provavelmente "Little Lies", "Go Your Own Way" e "Gypsy"), devem dar uma chance a "Buckingham McVie", mas mais importante que isso, do que é que estão à espera para ouvir esfomeadamente o "Rumours" e o "Tango In The Night"? Ou esta playlist espectacular? Ainda aqui estão? Tudo para o Spotify! O "Buckingham McVie" pode esperar.

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