quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Os melhores de 2015 — Os álbuns do ano

Mais um dia de Dezembro, mais uma lista dos melhores do ano. Nada de novo, não fosse esta lista elaborada com um algoritmo preciso e original, com um único e simples critério: o tempo de escuta. Por outras palavras, os álbuns mais bem classificados na minha lista de fim de ano são os que mais ouvi, os que tocaram compulsivamente durante dias e semanas a fio, no meu carro, na minha sala e no meu gabinete. Se têm algum problema com isso, o melhor é fecharem o separador e correrem para os braços da Pitchfork. Mas como vocês adoram listas e eu adoro listas e melhor que a lista que tem os álbuns que ouvimos, só mesmo a lista que tem os álbuns que não ouvimos, aqui estão as minhas escolhas para os melhores álbuns de 2015.

Top 10

10 — Hooton Tennis Club — "Highest Point In Cliff Town"
O álbum de estreia dos Hooton Tennis Club é implacavelmente 90s e daí colhe de tudo um pouco, desde a Britpop fina dos Blur, até ao underground americano dos Pavement. Mas foram os toques mancunicanos de Stone Roses e Oasis em "I'm Not Going Roses Again" que me conquistaram. As referências às minhas referências são tantas, que fica difícil não gostar do primeiro álbum da banda de Liverpool.

9 — Vangoffey — "Take Off Your Jacket & Get Into It"
O baterista dos Supergrass foi a solo, bateu em várias portas e sacou um punhado de pérolas. No superlativo "The Race Of Life" parece um Basement Jaxx melódico e no single "Trials Of The Modern Man" parece The Kinks teleportados para os 90s. Álbum sólido e leve no ouvido.

8 — Courtney Barnett — "Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit"
Se Liam Gallagher tivesse uma filha australiana (em 1987, duvido que ele tivesse sequer saído de Manchester), imagino-a como a Courtney Barnett: decidida, desbocada e estilosa, a destilar bazófia na voz. Ah e com o talento do tio Noel para a escrita. "Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit" é transversalmente considerado um dos álbuns do ano e desta feita, estou totalmente com a crítica. Ouçam à confiança.

7 — The Decemberists — "What a Terrible World, What a Beautiful World"
Ao mesmo tempo que liberta um aroma de grandiosidade intemporal levitada por órgãos, violinos e trompetes, "What a Terrible World, What a Beautiful World" poderia servir como banda sonora de uma sitcom americana dos late 90; ou pode ser apenas a banda sonora de uma tarde de limpezas em casa. São várias as layers de consumo deste álbum, que tanto serve de música de fundo, como de objecto de análise académica. Foi dos primeiro álbuns originais que ouvi este ano e ficou comigo até ao fim.

6 — Kurt Vile — "B'lieve I'm Goin Down..."
"B'lieve I'm Goin Down..." é o trabalho de um artista já com a maturidade para fazer um "Nebraska" e safar-se com isso. Confessional, minimalista e vulnerável, este é um álbum de histórias que poderiam ser contadas no decorrer de uma noite no deserto, só com o barulho de fundo da fogueira. Um deleite.

5 — Blur — "The Magic Whip"
O aclamado regresso dos Blur aterrou com estrondo em 2015 e trouxe-nos logo em Janeiro o single do ano — "Go Out". Por vezes os melhores álbuns resultam de um fugaz alinhamento de estrelas, mas se os dias em Hong Kong foram produtivos, "The Magic Whip" precisava de mais algumas semanas daquela explosão criativa que só acontece quando os quatro blurs se juntam, para ser aquilo que merecia. Valeu-nos um dos concertos do ano no SBSR.

4 — Tame Impala — "Currents"
O novo trabalho dos Tame Impala era o álbum Indie mais esperado do ano, com a curiosidade acrescida de vir rotulado como "mais electrónico" que o anterior. "Medo", pensei. O resultado acabou por ser nem especialmente radical como se temia, nem especialmente brilhante. A virtude de "Currents" é que quando é bom, é mesmo muito, muito bom. "Let It Happen" e "The Less I Know The Better" são dois dos melhores temas de 2015. E aquela capa? Quase que ganhavam, de caras, o título de melhor artwork do ano. Não fosse Peter Saville meter-se ao barulho...

3 — David Gilmour — "Rattle That Lock"
David Gilmour sabe da beleza e "Rattle That Lock" recupera o quê de belo dos Pink Floyd em temas como "5 A.M.", "Faces Of Stone" e "In Any Tongue", corrigindo ainda o inexplicável medo dos solos de guitarra que afectou os álbuns de Rock na última década e meia. Os problemas de "Rattle That Lock" são a ausência de Richard Wright — cimento que ligava toda a brita dos Floyd — e aquele tema Jazz, onde David arrisca a ser confundido como uma segunda vaga de Leonard Cohen. Espero que o próximo álbum não demore mais 9 anos.

2 — New Order — "Music Complete"
A grande surpresa do ano. Na ressaca da saída tormentosa de um membro-chave como Peter Hook (o meu preferido), foi contra todas as expectativas (incluindo as minhas) que os New Order fixeram "somente" um dos melhores álbuns dançáveis dos últimos anos, "somente" o melhor da banda desde "Technique" de 1989. Mas há mais. "Tutti Frutti" (com La Roux na voz) é "somente" o melhor tema dançável do ano e a capa é "somente" a melhor artwork do ano, trazida com o selo de qualidade de Peter Saville. Melhor regresso era difícil.

1 — Noel Gallagher — "Chasing Yesterday"
O que há para enganar em "Chasing Yesterday"? O Chefe entregou mais 10 canções com o seu selo de qualidade e embarcou numa digressão onde o apanhei por três vezes. Não admira que tenha sido o álbum que mais ouvi em 2015. Noel reuniu em "Chasing Yesterday" temas que poderiam ter sido Lados B dos Oasis no início dos 00s (alguns remontam a essa altura) e acreditem, isto é o maior elogio que lhe poderia fazer. O floydiano "Riverman" e o zero7iano "The Right Stuff" destacam-se, mas o melhor está guardado (mais uma vez) para os Lados B, desta vez do single de "Ballad Of The Mighty I": "Revolution Song" — uma versão uptempo de "Solve My Mystery" — tema gravado nas sessões do malfadado "Standing On The Shoulder Of Giants", metido na gaveta desde então e que viu finalmente a luz do dia. Que o Chefe esteja connosco por muitos mais anos.

Menções honrosas

Quase, quase a entrar no Top 10 estiveram "Carrie & Lowell" de Sufjan Stevens (não quis fazer a vontade ao meu colega Paulo), "Elsewhere" de Moullinex (melhor álbum português), "Teens Of Style" dos Car Seat Headrest (este foi mesmo por um triz), "In Colour" de Jamie XX (um dos mais inventivos de 2015) e, permitam-me a batota, "The Ties That Bind", o álbum perdido que Bruce Springsteen devia ter lançado em 1979 (devia mesmo) e só lançou este ano na caixa de celebração de "The River". Pensando nisto, até podia ter feito um Top 15. Mas não há 15 mandamentos, pois não?

Outras menções honrosas são devidas à cover de "Save A Prayer" pelos Eagles Of Death Metal (já era fã da versão dos Duran Duran antes de... vocês sabem), aos imparáveis Sleaford Mods (adoro aquele sotaque), aos Pretty Vicious a rebentarem em Glastonbury (atenção que estes miúdos não têm medo de solos de guitarra), ao épico dos Titus Andronicus (que semearam o caos no Mexefest), ao regresso dos Destroyer (se fecharem os olhos em "Dream Lover", vêem a E Street Band), a mais um mind-fucking long-play dos Godspeed You! Black Emperor e ao que já ouvimos da bomba que está quase a chegar de David Bowie ("Blackstar" é de doidos e "Lazarus" é de chorar por mais).
Sem necessariamente respeitar a ordem em cima, fiquem com a playlist do melhor de 2015:

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